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A um passo de nova terapia para o cancro


 
HELENA TEIXEIRA DA SILVA
Não será num futuro muito longínquo. Imagine que seria possível remover um tumor maligno sem cirurgia e sem o calvário da quimioterapia, só com recurso a fios de luz. A solução está a ser estudada em Braga.
 
foto JOÃO MANUEL RIBEIRO/GLOBAL IMAGENS
A um passo de nova terapia para o cancro
 
Teresa Petersen faz o aviso: "não cairei no erro de dizer que encontrámos a cura para o cancro". Mas deixa uma certeza, resultado de quinze anos de investigação em linha reta, ou seja, sem nenhuma hipótese rejeitada: "estamos a criar uma nova terapia para eliminar células tumorais." Em causa está a possibilidade de remover um tumor maligno sem recurso à cirurgia e sem causar tantos danos como a quimioterapia, uma vez que esta terapia é localizada. Chama-se biofotónica, atua com pulsos de luz, com recurso a fibras óticas.
Os primeiros resultados foram publicados no 'International Journal of Oncology', os dados mais recentes, fruto de testes em duas linhas de células tumorais, foram apresentados este mês na maior conferência em Biofotónica dos Estados Unidos da América, a 'SPIE Photonics West', sociedade internacional de abordagem avançada interdisciplinar para a ciência e aplicação de luz.
A investigadora que, em 2011, aceitou o desafio de trocar a Dinamarca por Braga, revela ao JN que o percurso começou pelo "fascínio" que nutre "pela estrutura tridimensional das proteínas e pela forma como a luz interage com elas." E explica como, a partir daí, concluiu poder descobrir uma nova terapia.
"As proteínas, essenciais para que haja vida, são nano estruturas com uma capacidade fantástica de interagir com a luz." Petersen quis explorar essa relação e descobriu que "um dos mecanismos ativados pela luz nas proteínas leva à formação de grupos reativos nas proteínas", cuja aplicação culminou no "desenvolvimento da nova tecnologia usada no fabrico de biossensores de deteção de moléculas associadas a cancro da mama, da próstata, etc." Primeira vitória.
Numa segunda fase, focou-se num tipo particular de proteína: a recetora. "São proteínas localizadas na membrana solar das nossas células, dando-lhes indicação para que se dividam e assim possam proliferar". Isto é o cenário saudável. "O problema, numa célula cancerígena", explica, "é que em vez de termos um número normal de recetores à volta da célula, temos uma abundância que vai provocar uma proliferação descontrolada." São células tumorais, cancro.
De que forma pode então a luz travar esta estimulação excessiva? "A proteína recetora tem uma composição química que a torna muito vulnerável à luz ultravioleta. Se perde a sua estrutura, perde a sua capacidade de se ligar corretamente a outras moléculas, perdendo atividade. Por isso, colocámos a hipótese de, usando pulsos de luz, conseguirmos que os recetores não fossem ativados e as células morressem." E a hipótese foi confirmada.
Uma das principais vantagens desta descoberta é ter "aplicação numa gama variada de tumores, desde que localizados, da bexiga, do pulmão ou do cérebro, particularmente difícil de operar. E pode ser usada conjuntamente com outras terapias.
Novos estudos celulares estão agora a ser realizados em colaboração com a professora Andreia Gomes da Universidade do Minho. "Ainda há muito para fazer", ressalva Petersen. "O próximo passo será testar o estudo em animais."

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