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Galiza. Parlamento regional aprova ensino do Português nas escolas
Por Rosa Ramos

E é só o começo: a Galiza quer entrar para a CPLP e o governo galego definiu ontem como “objectivo estratégico” o relacionamento com os países lusófonos

O primeiro passo está dado e partiu de uma iniciativa popular: mais de 17 mil galegos assinaram uma petição a exigir o ensino da língua portuguesa nas escolas e um maior aproveitamento da “riqueza” do português do lado de lá da fronteira. As assinaturas foram recolhidas em 2012 e o parlamento da Galiza aprovou ontem, por unanimidade, a lei que permitirá, nos próximos quatro anos, aumentar o peso do português no território galego.
Na prática, a língua portuguesa será integrada de forma progressiva e em todos os níveis de ensino regrado nas escolas galegas como língua estrangeira opcional. E o conhecimento do português passará a ser considerado uma mais-valia no acesso à função pública. Já o segundo artigo da proposta de lei, a que o i teve acesso, define como “objectivo estratégico” do governo da Galiza o relacionamento com os países de língua oficial portuguesa – aproveitando as semelhanças linguísticas com o galego.
O objectivo será estimular a participação das instituições públicas galegas nos fóruns económicos, culturais, desportivos e ambientais lusófonos.

A Galiza na CPLP Xosé Morell, empresário galego e um dos promotores da iniciativa popular – que recebeu o nome “Valentín Paz-Andrade” em homenagem a um dos responsáveis pela comissão galega do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa no final do século xix –,  está convicto de que a lei ontem aprovada em Santiago de Compostela vai abrir caminho à integração da Galiza na Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP). “Essa é, aliás, a grande prioridade a partir de agora”, confirmou o empresário ao i.

A crise, motor de união Portugal e a Galiza, explica Morell, partilham as origens da língua e séculos de cultura e de história. Mas as relações estendem-se hoje à economia. “Portugal é o principal destino das exportações galegas e também é o país a que mais compramos”, explica Xosé Morell.
Assim, a integração na comunidade lusófona envolve vantagens para os galegos, especialmente em tempo de crise económica. “As dificuldades que a Europa atravessa vieram mostrar que os estados não são, nem podem ser, as únicas referências na vida das pessoas”, acredita o empresário, que acrescenta: “Cada vez mais é preciso que as regiões e as pessoas saibam aproveitar as suas potencialidades e assumam responsabilidades e esse trabalho transcende fronteiras físicas ou políticas.”



Depois há as vantagens para Portugal. “A Galiza tem hoje cerca de 2,7 milhões de habitantes e o facto de a língua portuguesa poder existir como referência em mais um estado-membro da União Europeia tem consequências positivas para os portugueses, significa um peso maior”, acredita o promotor da lei que foi ontem aprovada.
Apesar de a proposta ter recebido o voto favorável dos quatro partidos com assento parlamentar, as medidas a implementar no terreno ainda não estão calendarizadas. Só para o caso do ensino do Português nas escolas ficou estabelecido um prazo máximo de quatro anos para que as aulas estejam implementadas nas escolas galegas, o que deverá acontecer de forma gradual, depois da fase de regulamentação da lei.

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