PÚBLICO
Uma cadeira de rodas made in Portugal que se move com um piscar de olhos
O Inesc-Tec desenvolveu um protótipo que está pronto para ser
lançado no mercado, mas ainda procura parceiros para a sua produção.
Sector da saúde é a mais recente aposta do laboratório com sede no
Porto.
Basta um piscar de olhos para fazer movimentar esta cadeira de rodas. Ou
inclinar a cabeça. O dispositivo é inovador e adapta-se à capacidade de
comunicação de cada utilizador. O projecto é português, fruto de uma
parceria que envolve várias instituições científicas e de ensino
superior, coordenada pelo Inesc-Tec (Instituto de Engenharia de Sistemas
e Computadores). O protótipo foi apresentado durante o primeiro dia
aberto dedicado à saúde no laboratório do Porto, esperando assim cativar
empresas interessadas em fazê-lo chegar ao mercado.
Esta cadeira de rodas
destina-se a pessoas com paralisia cerebral, ou que tenham sofrido as
consequências de um acidente vascular cerebral (AVC), por exemplo. Na
prática, adapta-se a utilizadores com diferentes tipos de problemas de
saúde. “Cada pessoa poderá ter a sua forma de comunicar com a cadeira”,
explica o investigador do Inesc Luís Paulo Reis, que coordenou a
investigação que esteve na base deste protótipo.
Os movimentos do dispositivo podem ser regulados por um joystick,
como nas cada vez mais comuns cadeiras de rodas elétricas, mas também
através de um interface multimodal, que se adapta a cada um. É por isso
que o sistema é capaz de responder a comandos de voz, movimentos de
cabeça ou expressões faciais simples, como um piscar de olhos, que
depois se combinam numa linguagem adequada ao seu utilizador.
O
dispositivo está pronto e foi apresentado no final de Janeiro, fruto de
seis anos de trabalho no Inesc e de uma parceria alargada, que envolveu
também as universidades do Porto, de Aveiro e do Minho e a Escola
Superior de Tecnologia de Saúde do Instituto Politécnico do Porto, bem
como a Associação do Porto de Paralisia Cerebral, que foi o parceiro de
testes da cadeira de rodas.
Para trás, tinham ficado os primeiros
trabalhos de vários destes investigadores numa área aparentemente
recreativa: alguns dos investigadores do Inesc que estão na base desta
inovação foram responsáveis por uma equipa de futebol robótico, que
durante vários anos conquistou várias competições a nível internacional.
“Ganhámos quatro campeonatos do mundo e dez da europa”, diz sorridente
Luís Paulo Reis, acrescentando de seguida: “Depois, pudemos colocar este
tipo de experiência ao serviço dos cidadãos num projecto socialmente
mais útil.”
A cadeira de rodas inteligente, como é apresentada, é
já um protótipo final, completamente testado, que permite construir o
dispositivo à escala industrial. O que falta agora são os investidores.
“Não existe mercado em Portugal”, avalia Luís Paulo Reis, pelo que não
tem havido empresas interessadas em produzir esta inovação. A solução da
equipa do Inesc passa por apontar para fora do país, criando um
projecto europeu ou luso-brasileiro que permita fazer chegar o produto
ao mercado.
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