Diário Digital
Filhos de gays são tão ou mais saudáveis do que os outros, indica estudo
No que diz respeito à saúde, as crianças criadas em contexto homossexual "estão a sair-se bem, quando não melhor", do que as que vivem em contexto heterossexual, considera a equipa de investigadores da Universidade de Melbourne, que publicou o estudo na revista médica "BMC Public Health" a 21 de junho.
Os resultados do estudo australiano, que pretendia
"descrever o bem estar físico, mental e social das crianças australianas
que vivem com casais do mesmo sexo, e o impacto que o estigma tem
nelas", foram hoje noticiados pelo jornal "The Washington Post".
A conclusão "não é propriamente uma novidade" e "confirma" o que já
se sabia, que "são mais as semelhanças do que as diferenças entre as
crianças que são educadas em contexto hetero e em contexto
homoparental", destaca o psicólogo Jorge Gato, que ajudou a Lusa a ler
os resultados.
Todos os estudos já feitos mostram que, "independentemente do método,
do tamanho da amostra, daquilo que se estuda, há sempre uma
convergência numa maior semelhança do que diferença entre estas duas
famílias", resume Jorge Gato.
A "BMC Public Health" é uma revista "idónea", onde "é difícil
publicar", pois "só" se aceitam "artigos de qualidade", frisa Jorge
Gato, destacando a dimensão do estudo australiano, que recorreu a uma
amostra "bastante significativa".
A equipa da Universidade de Melbourne seguiu 315 casais homossexuais e
500 crianças em toda a Austrália, comparando os seus resultados com os
indicadores de saúde e bem-estar da população em geral.
Outra das novidades é que o estudo inclui quase 20 por cento de
crianças que vivem com casais gay, amostra geralmente "menos estudada,
porque menos disponível", realça Jorge Gato. "É mais fácil estudar as
lésbicas, também porque provavelmente serão a maioria, porque é mais
fácil para uma lésbica recorrer a uma inseminação artificial do que a um
gay recorrer a uma barriga de aluguer", explica.
Em indicadores como "comportamento emocional" e "funcionamento
físico", os investigadores australianos não encontraram diferenças entre
as crianças em contexto homo e heteroparental, sublinhando que as
qualidades da educação e o bem estar económico das famílias são mais
importantes do que a orientação sexual dos pais.
Por outro lado, "as crianças que vivem com famílias homossexuais
tiveram resultados, em média, seis por cento melhores em dois
indicadores: saúde geral e coesão familiar", concluiu a equipa liderada
pelo investigador Simon Crouch.
A conclusão de que os casais do mesmo sexo podem ser bons pais dá eco
aos resultados de investigações já realizadas no passado. Porém, este
estudo sugere que os filhos desses casais podem estar em vantagem por
não terem um educação tão estereotipada no que respeita às relações e
papéis de género.
Em declarações à ABC News, Simon Crouch deu como exemplo que os
casais do mesmo sexo têm mais probabilidade de partilhar
responsabilidades em casa do que os casais heterossexuais. Sair do
esquema tradicional dos papéis de género resulta numa "unidade familiar
mais harmoniosa", refere o estudo.
"Quando emergem diferenças [entre filhos de homo e heterossexuais],
são geralmente a favor das crianças educadas em contexto homoparental, é
o caso aqui também", nota Gato.
"Uma educação não tão estereotipada, mais livre, mais virada para a
diversidade" promove o bem estar, corrobora o investigador,
acrescentando que, geralmente, os casais homossexuais investem muito nas
crianças, porque "foram uma escolha" e "raramente" um "acidente".
De acordo com o estudo, cerca de dois terços das crianças com pais
homossexuais experimentaram alguma forma de discriminação por causa da
orientação sexual dos seus pais, mas, "mesmo assim, conseguem ter
melhores resultados do que os outros em algumas áreas", refere Gato.
O estudo sublinha que "nenhum tipo de família é necessariamente
melhor do que outro" e que as crianças "podem crescer em contextos
familiares muito diferentes".
Resumindo, "não é verdade" que, "como frequentemente se sugere, as
crianças de pais do mesmo sexo tenham piores resultados por lhes faltar
uma figura parental", sustenta a equipa, garantindo que "os dados são
suficientes para saber o que é bom para as crianças".
Diário Digital com Lusa
Comentários