"Libertem Raif." Em Belém contra as 1000 vergastadas
Não eram muitos, mas estavam em número
suficiente para prender o olhar de quem passava de carro pela zona de
Belém, em Lisboa, esta quarta-feira. E a ameaça de frio e de chuva não
os fez ceder: dezenas de pessoas concentraram-se junto à embaixada da
Arábia Saudita para apelar à libertação do escritor saudita Raif Badawi.
A cor amarela destacava-se nos cartazes que jovens e adultos seguravam,
virados para a estrada.
Na Avenida do Restelo, em Belém, cartazes dizendo
"Libertem Raif", "Defenda os direitos humanos" e "Julgamentos justos,
sim" revelavam a razão da vigília promovida pela Amnistia Internacional:
lutar pela liberdade de expressão e pelo fim imediato aos castigos
corporais a que Raif Badawi foi submetido no ano passado. Castigos que
Teresa Pina, diretora-executiva da Amnistia Internacional de Portugal,
classifica de "cruéis e desumanos".
Raif Badawi foi preso em 2012 e acusado de insultar o Islão nos textos que escrevia para o blogue Rede Liberal Saudita
, debatendo questões como a separação de poderes no reino e a religião. A
sua condenação consiste em 10 anos de prisão, o pagamento de uma multa
significativa, a proibição de voltar a ter acesso aos media e em 1000
vergastadas, das quais já suportou as primeiras 50, nas costas e nas
pernas, no passado dia 9 de janeiro, que o deixaram muito mal de saúde e
obrigaram ao adiamento de outras sessões desse castigo. Este é um caso
que tem sido acompanhado um pouco por todo o mundo e, de acordo com
Teresa Pina, "está a pôr em causa a liberdade de expressão".
No grupo de pessoas presentes destacava-se Anabela
Seabra, por conseguir segurar um cartaz apesar de estar apoiada em
canadianas. Apesar de ter sido operada recentemente a um joelho, esta
mulher de 54 anos não deixou de juntar-se a uma causa com a qual se
identifica. Para Anabela, a libertação de Badawi simbolizará uma
"pequena vitória, uma possibilidade de a Arábia Saudita abrir um pouco
mais o horizonte às pessoas para que possam expressar-se".
Uma opinião partilhada por Martins Guerreiro, um homem
de "já muitos anos" - na verdade, são apenas 74 - que num tom calmo mas
otimista e crente na libertação de Raif, que a acontecer significaria
que realmente era "respeitada a dignidade daquela pessoa e que valeu a
pena lutarmos por isso". Este septuagenário afirma-se convicto que não é
do "interesse da Arábia Saudita continuar com estes atos macabros",
porque a opinião pública está "atenta", tem divulgado este caso pelo
mundo inteiro e aquele país não quer ficar com "má imagem".
Ao todo, a Amnistia Internacional já recolheu mais de
um milhão de assinaturas pela libertação de Raif Badawi. Para Teresa
Pina, "não faz sentido" este saudita ser condenado "apenas por produzir a
sua atividade num blogue, exprimindo opiniões políticas e de outra
natureza". A diretora-executiva da Amnistia Internacional de Portugal
reforça a luta por esta causa, afirmando que a liberdade de expressão é
um "direito universal, garantido na Declaração Universal dos Direitos
Humanos". E reforça: "Quando isso não é garantido, a Amnistia
Internacional entende que estamos perante um prisioneiro de consciência e
daí a mensagem que trazemos, a da libertação imediata e incondicional
de Raif".
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