"Libertem Raif." Em Belém contra as 1000 vergastadas

Aos 30 anos, Raif Badawi viu a sua vida levar uma volta por escrever textos em que falava sobre religião e separação de poderes no reino saudita. Acusado em 2012 de insultar o Islão e o rei, no ano seguinte foi condenado a 10 anos de prisão e 1000 vergastadas. As primeiras 50, desferidas nas costas e nas pernas, deixaram-no muito mal de saúde.
 
Pela liberdade de expressão e pelo fim imediato dos castigos corporais a que Raif Badawi foi submetido
Pela liberdade de expressão e pelo fim imediato dos castigos corporais a que Raif Badawi foi submetido /  Ricardo Rodrigues da Silva

Não eram muitos, mas estavam em número suficiente para prender o olhar de quem passava de carro pela zona de Belém, em Lisboa, esta quarta-feira. E a ameaça de frio e de chuva não os fez ceder: dezenas de pessoas concentraram-se junto à embaixada da Arábia Saudita para apelar à libertação do escritor saudita Raif Badawi. A cor amarela destacava-se nos cartazes que jovens e adultos seguravam, virados para a estrada.
Na Avenida do Restelo, em Belém, cartazes dizendo "Libertem Raif", "Defenda os direitos humanos" e "Julgamentos justos, sim" revelavam a razão da vigília promovida pela Amnistia Internacional: lutar pela liberdade de expressão e pelo fim imediato aos castigos corporais a que Raif Badawi foi submetido no ano passado. Castigos que Teresa Pina, diretora-executiva da Amnistia Internacional de Portugal, classifica de "cruéis e desumanos".
Raif Badawi foi preso em 2012 e acusado de insultar o Islão nos textos que escrevia para o blogue Rede Liberal Saudita , debatendo questões como a separação de poderes no reino e a religião. A sua condenação consiste em 10 anos de prisão, o pagamento de uma multa significativa, a proibição de voltar a ter acesso aos media e em 1000 vergastadas, das quais já suportou as primeiras 50, nas costas e nas pernas, no passado dia 9 de janeiro, que o deixaram muito mal de saúde e obrigaram ao adiamento de outras sessões desse castigo. Este é um caso que tem sido acompanhado um pouco por todo o mundo e, de acordo com Teresa Pina, "está a pôr em causa a liberdade de expressão".
No grupo de pessoas presentes destacava-se Anabela Seabra, por conseguir segurar um cartaz apesar de estar apoiada em canadianas. Apesar de ter sido operada recentemente a um joelho, esta mulher de 54 anos não deixou de juntar-se a uma causa com a qual se identifica. Para Anabela, a libertação de Badawi simbolizará uma "pequena vitória, uma possibilidade de a Arábia Saudita abrir um pouco mais o horizonte às pessoas para que possam expressar-se".

Ricardo Rodrigues da Silva Ao todo, a Amnistia Internacional já recolheu mais de um milhão de assinaturas pela libertação de Raif Badawi
Uma opinião partilhada por Martins Guerreiro, um homem de "já muitos anos" - na verdade, são apenas 74 - que num tom calmo mas otimista e crente na libertação de Raif, que a acontecer significaria que realmente era "respeitada a dignidade daquela pessoa e que valeu a pena lutarmos por isso". Este septuagenário afirma-se convicto que não é do "interesse da Arábia Saudita continuar com estes atos macabros", porque a opinião pública está "atenta", tem divulgado este caso pelo mundo inteiro e aquele país não quer ficar com "má imagem".
 Ao todo, a Amnistia Internacional já recolheu mais de um milhão de assinaturas pela libertação de Raif Badawi. Para Teresa Pina, "não faz sentido" este saudita ser condenado "apenas por produzir a sua atividade num blogue, exprimindo opiniões políticas e de outra natureza". A diretora-executiva da Amnistia Internacional de Portugal reforça a luta por esta causa, afirmando que a liberdade de expressão é um "direito universal, garantido na Declaração Universal dos Direitos Humanos". E reforça: "Quando isso não é garantido, a Amnistia Internacional entende que estamos perante um prisioneiro de consciência e daí a mensagem que trazemos, a da libertação imediata e incondicional de Raif".

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