Exame InformáticaCohitec: a cura da malária e o HIV detetado em três dias

Hugo Séneca
15/07/2015 

Um dispositivo que prevê a probabilidade de enfartes em menos de uma hora e outro que faz o diagnóstico do HIV em três dias. A malária pode ter uma cura. E alguns cancros de pulmão também. Eis a mais recente fornada dos projetos Cohitec.

João Nunes, líder da Daila, não tem medo da ambição: «por ano, são feitos 200 milhões de testes de diagnóstico do HIV. Nós queremos que, no futuro, esses 200 milhões de testes passem a usar o Nano-V». Como muitos dos 15 projetos que desfilaram ontem no encerramento do programa de empreendedorismo Cohitec, em Lisboa, a Daila ainda não tem um negócio. João Nunes não tira o pé do acelerador do otimismo: «queremos criar uma empresa até ao final do ano». O roteiro da Daila também prevê a estreia comercial para 2019, mas esse objetivo só será alcançado se a startup garantir cinco milhões de investimento. Sem esse dinheiro, a Daila não poderá desenvolver um dispositivo que faz o diagnóstico do vírus da Sida em três dias – um período bastante inferior ao período mínimo de um mês exigido pelos testes de diagnóstico atuais.
O programa Cohitec de 2015 pode não salvar o mundo – mas tem seguramente algumas das ideias mais ousadas que alguma vez saíram dos laboratórios e universidades portuguesas nas denominadas ciências da vida. No auditório do Pavilhão do Conhecimento, desfilaram com a diferença de minutos um projeto que promete a cura para a malária (Anti-Malarials), uma solução que pretende detetar a probabilidade de ocorrência de enfartes cardíacos em menos de uma hora (Sumthink), uma possível cura para um dos tipos de cancro do pulmão (Nanoplex); uma solução de dosagem mais adequada para anestesias (MedInfusion), e ainda um equipamento que poderá ser usado para detetar diferentes micro-organismos que estão na origem de infeções, e que deverá começar por incidir no diagnóstico da pneumonia (MDID) .
Mas nem só de ciências da vida vive o Cohitec. Eis outras ideias que facilmente se colam ao imaginário de qualquer futurista: a startup Ocean Swarm deu a conhecer esquadrilhas de pequenas embarcações robóticas que localizam cardumes prontos a pescar; a bOptimum prevê criar um sistema que estima consumos de água de uma cidade e reduzir os consumos de energia derivados da bombagem para os diferentes reservatórios; e a CoolMeat desenvolveu uma enzima que torna a carne mais tenra.
O entusiasmo de quem conclui o prestigiado curso de empreendedorismo é notório – e já faz parte da coreografia de quem tem de “vender a ideia” a investidores, jornalistas, especialistas ou outros curiosos que geralmente acompanham o lançamento de novos projetos desenvolvidos no programa Cohitec.
Pedro Vilarinho, coordenador do programa Cohitec, lembra que, entre uma boa ideia e um grande negócio, ainda vai um percurso longo: «Estes 15 projetos terão de ser analisados a fundo, para se poder saber qual o verdadeiro potencial que têm. No passado, houve projetos que achávamos que tinham potencial e acabaram por se revelar desilusões, e também outros em que não acreditávamos tanto e que se revelaram verdadeiras surpresas».
Nem todos os 15 projetos da mais recente “fornada” do programa Cohitec vão seguir em frente – e, mesmo entre os que são selecionados para etapas posteriores, há equipas que «desmotivam e regressam à universidade ou que se descobre que não estavam à altura das exigências», recorda Pedro Vilarinho.
Para quem quer seguir em frente, há um objetivo em comum: chegar ao mercado internacional e disputar segmentos que podem vir a valer centenas ou milhões de euros. Entre os casos de sucesso, destaca-se o grupo de seis empresas que se iniciaram no Cohitec e que já concluíram toda a fase de crescimento estando agora a chegar ao mercado, com produtos ou provas de conceito (ACS - Advanced Cyclone Systems, 5ensesinFood, Omniflow, Consumo em Verde - Biotecnologia das Plantas; Abyssal; e BioMode). No total valem mais de 40 milhões de euros e contam com 20 patentes registadas. Duas delas faturaram um total de seis milhões de euros.
Daniel Bessa, diretor-geral da associação Cotec, fechou a sessão de encerramento do Cohitec com uma certeza e um desafio: «É claro que temos boa ciência em Portugal e o nosso trabalho é transformá-la em negócios, empresas e empregos».
O programa Cohitec arrancou em 2004, com o objetivo de promover a conversão de cientistas em empresários. Em 12 edições, passaram pelo programa Cohitec 151 projetos de negócio de base de tecnológica, que deram origem a 26 startups, que atraíram 35 milhões de euros de investimento.

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