Mulheres sauditas votam este sábado pela primeira vez
Decisão
foi muito aplaudida, mas há quem defenda que pouco impacto terá no
estatuto da mulher, que continua a ser impedida de ir para a
universidade, conduzir e viajar sem autorização do marido
Este
sábado será um dia histórico para a Arábia Saudita. Pela primeira vez,
as mulheres vão poder votar e candidatar-se a um cargo político no país.
Mais de 950 mulheres estiveram em campanha nos últimos meses para as
eleições municipais.
"É um primeiro passo para nos tornarmos
cidadãs mais ativas", disse Salma al-Rashid, uma das responsáveis por um
dos grupos que lançaram campanhas para apelar ao voto das mulheres,
citada pelo "Wall Street Journal". Numa entrevista à BBC, Salma
al-Rashid, que foi também a primeira mulher a registar-se para votar em
Riad, capital do país, disse que as eleições são a única forma de
garantir a participação das mulheres na vida política do país.
As
primeiras eleições municipais na Arábia Saudita remontam a 2005. Foi
Abdullah bin Abdulaziz, o falecido rei saudita, que autorizou a sua
realização. Foi também ele o responsável por algumas reformas que
garantiram ao país uma maior abertura ao exterior e às mulheres uma
maior participação na vida pública do reino. Além de ter reforçado o
papel da Arábia Saudita como potência incontestável da região, ter
permitido que milhares de jovens fossem estudar para o estrangeiro -
através de um sistema de bolsas -, e que houvesse alguma crítica na
imprensa (ainda que mínima), foi graças a ele que, a partir de 2013, as
mulheres começaram a integrar a Shura, ou Conselho Consultivo, o órgão
consultivo do rei, que funciona quase como uma espécie de Parlamento,
mas com poderes legislativos limitados.
Aos poucos, as mulheres
da Arábia Saudita começam a poder desempenhar tarefas e cargos que até
agora estavam à inteira responsabilidade dos homens. O Governo tem
introduzido uma série de reformas consideradas delicadas, que visam, por
exemplo, uma maior presença de mulheres no mundo do trabalho. Muitas já
ocupam cargos de liderança no sector privado, refere o "Wall Street
Journal".
Mas esta visão está longe de ser consensual no país.
Vários críticos têm dito que esta nova medida, que permitirá às mulheres
participar no sufrágio deste sábado e ser eleitas, é apenas para
"consumo externo", para mostrar ao mundo uma imagem que não corresponde à
realidade do país, refere o jornal americano. Os mesmos críticos
defendem que esta conquista pouco impacto terá no estatuto da mulher,
que continua a ser impedida de ir para a universidade, conduzir e viajar
sem autorização do marido.
As mulheres que se registaram para
votar nas eleições de sábado representam apenas uma pequena porção do
eleitorado - cerca de 130 mil, num total de 1.49 milhões de votantes. O
número de mulheres que se candidata - 980 - é pouco relevante se
comparado com o número total de candidatos, que são mais de 6.900,
havendo poucas expectativas de que alguma venha a vencer.
Além
disso, houve uma série de restrições que essas candidatas tiveram de
enfrentar durante a campanha eleitoral. Num país em que os eleitores são
maioritariamente do sexo masculino, espera-se que o facto de as
mulheres não terem tido contacto direto com os homens, fosse em eventos,
fosse em debates eleitorais, venha a ter influência nos resultados das
eleições, para prejuízo delas.
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