Cientista portuguesa cria brochura para ajudar doentes a lidar com o cancro
“O ‘modus operandi’ deste projeto foi
recolher a experiência da doença como fator naturalmente integrante
daquilo que é material informativo em saúde. Foram ouvidos 143 doentes
oncológicos, fiquei com uma ideia bastante precisa ou consistente, pelo
menos, das necessidades verbalizadas pelos doentes. O que eu fiz foi
analisar as suas narrativas”, explicou à Lusa a investigadora
responsável pelo projeto, Paula Silva.
“Conhecer a doença: os
doentes em primeiro lugar”, que terça-feira é apresentado no i3S, é um
projeto desenvolvido no Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da
Universidade do Porto (Ipatimup) pela investigadora Paula Silva e
financiado pela Fundação Calouste Gulbenkian (FCG), que entrecruza a
oncologia, as ciências sociais e a biomedicina.
O trabalho partiu de entrevistas a doentes oncológicos, cujas
vivências, dúvidas e iliteracia em relação ao cancro impulsionaram a
elaboração de brochuras “com uma linguagem acessível e educativa, capaz
de desconstruir medos, mitos e termos médicos habitualmente
incompreensíveis”.
Estas brochuras, dedicadas aos cancros de
cólon, esófago, mama, próstata, pulmão, estômago, bexiga e tiroide, têm a
chancela da Direção Geral de Saúde (DGS), que os disponibilizará no seu
website, e vão ser distribuídas aos doentes com estes tipos de cancro,
numa primeira fase, nas unidades das administrações regionais de saúde
do Norte e do Alentejo.
Saiba mais: 17 sintomas de cancro que os portugueses ignoram
De
acordo com a investigadora, “o conteúdo não é suscetível de ser deixado
em folheto. A ideia era que funcionasse com um reforço do vínculo
entre, por exemplo, os médicos de família e os doentes. Porque todos os
doentes que são tratados em ambiente hospitalar e têm um diagnóstico de
cancro são referenciados nos médicos de família. Seria um instrumento
benéfico, não só para os doentes no sentido de os capacitar, torná-los
mais informados relativamente a sua situação, mas também seria um
facilitador para o médico de família”.
Informações muito úteis para doentes e não doentes
A
estrutura das publicações é composta por uma série de temas
considerados de interesse para a realidade da doença oncológica: fatores
de risco, sinais e sintomas, o diagnóstico, o relatório (com uma
explicação dos termos médicos mais utilizados no exame
anatomopatológico) e o tratamento.
Além dos aspetos clínicos, o
cancro “na primeira pessoa” – através das narrativas da experiência da
doença – incluem-se nas informações úteis questões relativas aos
direitos dos doentes oncológicos e contactos de instituições cuja
atividade se desenvolve no domínio do cancro (nomeadamente associações
de doentes).
Os conteúdos foram elaborados por especialistas de
várias áreas (anatomia patológica, cirurgia, endocrinologia,
gastrenterologia, nutrição, oncologia, pneumologia, urologia, psicologia
e sociologia) e posteriormente validados pelos entrevistados.
Os
resultados do projeto “Conhecer a doença: os doentes em primeiro lugar”
e as brochuras serão apresentados na terça-feira, no Ipatimup/i3S.
Integrado neste evento, realizar-se-á também uma dinâmica de grupo, que
contará com a presença dos doentes entrevistados e profissionais de
saúde, além de responsáveis da tutela.
Comentários