Cientistas descobrem cura funcional para o VIH

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Conceito artístico do VIH criado pelo designer ucraniano Alexey Kashpersky

Com apenas uma exceção confirmada, não há registo de pacientes a serem curados do VIH. Entretanto, hoje em dia é possível anular os sintomas causados pelo vírus, havendo ainda milhares de casos em que os níveis do vírus no sangue ficam essencialmente indetetáveis, significando isso que o paciente não pode passar a infeção para outra pessoa.
Apesar de não haver uma cura definitiva, quando o vírus se torna indetetável, os cientistas consideram que houve uma cura funcional. Agora, cientistas do Instituto de Pesquisa Scripps (TSRI, na sigla em inglês), na Flórida, parecem ter encontrado mais uma maneira de “curar” o VIH.
No estudo, publicado no Cell Reports, os cientistas explicam como um novo tipo de droga suprime a replicação do vírus em células cronicamente infetadas. Isso evita a recuperação viral, em que os níveis de vírus num paciente disparam após uma queda inicial, mesmo durante as interrupções do tratamento.
A descoberta foi descrita pela equipa como uma abordagem “Block-and-Lock” (Bloquear-e-Trancar), na medida em que a reativação do vírus dentro das células é prevenida e o VIH no paciente entra num estado latente, sem prejudicar o corpo.
“Ao combinar esta droga com o cocktail padrão de antirretrovirais usado para suprimir a infeção em cobaias humanizadas infetadas pelo VIH-1, o nosso estudo encontrou uma redução drástica no RNA presente no vírus“, disse a professora associada do TSRI, Susana Valente, autora principal do estudo, em comunicado.
“Nenhum outro antirretroviral usado atualmente é capaz de suprimir completamente a produção viral em células infetadas in vivo“, acrescentou, citada pelo IFLScience.
Nas cobaias testadas, verificou-se que não mostravam uma recuperação viral até 19 dias depois de pararem de receber doses do composto. Na metade dos camundongos tratados, o vírus ainda era indetetável durante 16 dias após o fim do tratamento.
O foco da pesquisa foi um composto chamado didehydro-Cortistatin A, ou dCA. Isolado da esponja marinha Corticum simplex em 2006, um cientista da TSRI conseguiu sintetizá-lo em laboratório dois anos depois.
A equipa do TSRI tem trabalhado neste composto há algum tempo e, em 2015, anunciou que o composto possui características que perturbam o VIH. O novo estudo confirma que também bloqueia a Tat, uma proteína reguladora que aumenta a taxa em que o VIH copia ADN em RNA – um processo vital para o ciclo de vida.
“É realmente a prova de conceito para uma cura funcional”, explicou Susana. A professora também apontou que a dose máxima do medicamento “praticamente não teve efeitos colaterais”.
O VIH/AIDS costumava ser uma doença devastadora. Agora, além de as pessoas viverem uma vida normal com o vírus, podem ainda ver como a ciência está a preparar o caminho para curas funcionais – e, quem sabe, completas.

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