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Química
Avanço decisivo no carro do futuro

por LUÍS NAVES

Avanço decisivo no carro do futuro

Uma equipa americana descobriu um composto inorgânico que armazena hidrogénio de forma eficiente e que pode ser reciclado, ou seja, reabastecido de combustível com pouca energia gasta. Este pode ter sido o passo decisivo para chegar ao carro do futuro, com base em células de hidrogénio, a preço acessível e com zero emissões de gases de efeito de estufa.

A tecnologia dos carros do futuro deverá sofrer um avanço decisivo após uma descoberta anunciada num artigo que será publicado no próximo número da revista científica Angewandte Chemie. Em causa, está um novo método de reciclar borazano, composto considerado ideal para armazenar hidrogénio.

Os carros do futuro deverão usar células de hidrogénio como a sua fonte de energia primordial. O hidrogénio é o combustível, resultando na produção de movimento (mais eficaz do que nos actuais motores de combustão) e zero emissões de gases poluentes. Uma das questões essenciais desta tecnologia será a do armazenamento do hidrogénio, combustível fácil de produzir, mas difícil de manter nas condições de temperatura ambiente.

Um combustível para uma máquina de transporte (basta pensar no exemplo da gasolina) deve ser leve e ter conteúdo energético elevado. O hidrogénio puro é um gás e não pode ser utilizado para fazer um carro andar 450 quilómetros com um único abastecimento. (Este valor é o padrão técnico que as marcas de automóveis desejam atingir para igualar a actual tecnologia de transportes rodoviários).

Para resolver este problema, a investigação está a concentrar-se em compostos inorgânicos chamados hidretos e um dos mais promissores para garantir a armazenagem de hidrogénio chama-se borazano, cuja molécula contém um átomo de boro, outro de azoto e seis de hidrogénio. A capacidade deste composto permite armazenar 20% do seu peso em hidrogénio.

A limitação do borazano, até agora, era a reciclagem. Gasto o hidrogénio, não havia métodos eficientes de o reintroduzir no combustível. Era como se um veículo só pudesse ser usado uma vez.

O novo método de reciclar o borazano foi desenvolvido por cientistas do Laboratório Nacional de Los Alamos e da Universidade de Alabama, nos EUA. Esta equipa descobriu que uma das formas resultantes com menos hidrogénio, chamada poliborazileno, pode ser reciclada com um mínimo de energia. As implicações são vastas, eventualmente permitindo recarregar cada depósito com hidrogénio suficiente.

A partir daqui, este parece ser sobretudo um problema de engenharia e de economia. Será preciso desenvolver máquinas que permitam usar esta descoberta. Falta chegar aos protótipos e sobretudo à produção em larga escala, que permita a descida de preços. Tal como existem, as células de hidrogénio são dispendiosas e não há infra-estruturas de abastecimento de hidrogénio.

O carro do futuro está ainda bem longe, mas esta descoberta pode resolver aquele que era, até hoje, o maior problema: armazenar o combustível de forma a que o veículo produzisse electricidade para, logo depois, ser reabastecido num único passo.

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