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Occupy Vieira do Minho. Jovens feministas de armas e bagagens em Portugal



Terceiro acampamento das jovens feministas europeias decorre em Portugal de 4 a 12 de Agosto. Menino não entra
A partir de amanhã mais de 60 jovens feministas europeias vão instalar-se em Vieira do Minho para uma semana de debates, workshops e iniciativas públicas promovidas pela movimento feminista internacional Marcha Mundial das Mulheres (MMM). A intervenção da troika em Portugal, as dificuldades inerentes ao resgate financeiro e o agravamento das desigualdades de género vividas pelas portuguesas serviram de mote para trazer a terceira edição do Acampamento de Jovens Feministas ao Minho, depois de Toulose, em França (2011), e Targoviste, na Roménia (2012), terem sido os locais escolhidos para os dois primeiros acampamentos.
"A escolha de Portugal deveu-se a dois factores: sermos um país intervencionado pela troika, cujas políticas de austeridade têm tido impactos gravíssimos sobre as vidas da maioria das pessoas, nomeadamente das mulheres, e por entendermos ser essencial partilhar preocupações, reflexões, experiências e estratégias entre jovens feministas a nível europeu para combater o aprofundamento das desigualdades e afirmar as nossas resistências e alternativas", sublinhou fonte da organização ao i. Até agora há 60 jovens inscritas na iniciativa provenientes de Portugal, Espanha, França, Suíça, Itália, Alemanha, Estónia, Finlândia, Áustria, Roménia e Reino Unido - a iniciativa só é aberta a mulheres porque se pretende "afirmar as capacidades das mulheres para a acção e autonomia", e não há limite de idades.
Também a região do país onde vai decorrer o evento não foi escolhida ao acaso, já que este ano a organização do acampamento está a cargo da MMM de Portugal e da Galiza, ficando o Minho equidistante para ambas as organizadoras. "A localização, em Vieira do Minho, permite a concretização desta parceria. Por outro lado, a quinta que nos acolherá situa-se num lindo vale rodeado por montanhas verdejantes muito perto da serra do Gerês e tem todas as condições necessárias para a realização de uma iniciativa desta natureza", justificou o MMM Portugal.
Autogestão Desde o início desta iniciativa que as jovens feministas estabeleceram que os acampamentos se iriam realizar sempre em autogestão. Não só dormem em tendas, procurando alojar-se em quintas ou na proximidade de florestas e rios, como tentam consumir apenas produtos locais e cultivados de forma ecológica. O dia-a- -dia do campo é gerido por todas em conjunto e todas as participantes têm de levar a cabo tarefas como cozinhar ou limpar.
A autogestão não se aplica só à logística do acampamento, também o programa das actividades só é definido quando todas as participantes já se encontram juntas. Numa assembleia-geral decidem e votam os temas a abordar durante aquela semana, sendo por isso impossível saber com antecedência o que vai fazer parte do convívio em Vieira do Minho. A tradição deste evento indica que uma marcha com animação, dança e música pelas ruas de Braga não estará fora de questão, assim como debates públicos com os moradores da zona sobre tolerância e, claro, o papel da mulher na sociedade.
Yes We Camp A grande diferença em relação aos últimos dois acampamentos é que este ano a organização não conseguiu qualquer ajuda comunitária para o projecto - apesar de o acampamento que decorreu em Toulouse, em 2011, ter sido nomeado para prémios de acção juvenil na Europa. "Decidimos, mesmo assim, avançar com a organização, com os recursos e boas vontades que conseguíssemos mobilizar. Daí o lema 'Yes, we camp!' Mais que uma actividade de projecto, esta iniciativa pretende de facto promover a cidadania crítica e uma consciência feminista, capaz de enfrentar os tempos e as políticas adversas que hoje enfrentamos."
Além do debate sobre as desigualdades e o "risco de cristalização de valores conservadores, que relegam as mulheres para a esfera privada e as tarefas de reprodução, ao mesmo tempo que parece acentuar-se a tendência para a mercantilização dos nossos corpos", as jovens feministas querem mudar a perspectiva com que as mulheres encaram o futuro. "[Combatemos as dificuldades] recusando liminarmente o que nos apresentam como inevitabilidades, participando no espaço público - seja em grupos de mulheres, seja noutros grupos, associações, movimentos ou mesmo partidos -, construindo solidariedades e afirmando alternativas", sublinhou o MMM.
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