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Poesia está de novo nas ruas sob a face de angústia colectiva, diz Maria Velho da Costa
14 de Dezembro, 2013
A
escritora Maria Velho da Costa afirmou hoje que a poesia está
actualmente nas ruas portuguesas sob "a terrível face de angústia
colectiva" e vincou que todos os regimes totalitários consideram
"perigosa" a literatura.
Estas ideias foram transmitidas por Maria
Velho da Costa, após receber o Prémio Vida Literária, da Associação
Portuguesa de Escritores, na Cultugest - cerimónia que contou com a
presença do Presidente da República, Cavaco Silva, e do secretário de
Estado da Cultura, Jorge Barreto Xavier, ao qual a escritora não se
referiu quando apresentava os agradecimentos.
"Aguentei os
desconcertos do 'verão quente' de 1975 e suas sequelas. A poesia já não
estava na rua, nem voltou a estar, excepto hoje sob a sua terrível face
de angústia colectiva", disse Maria Velho da Costa no final do seu
discurso.
No final da cerimónia, a escritora aprofundou essa
referência e explicou aos jornalistas como encara a situação social
actual do país.
"As manifestações são uma forma de poesia de rua -
uma poesia negra, tristíssima. É a voz do povo como foi no 25 de
Abril", defendeu.
Na sua intervenção, Maria Velho da Costa
surpreendeu boa parte dos presentes na cerimónia ao dizer que pretendia
abandonar o labor da escrita, mas nunca a sua ligação profunda à
literatura.
No entanto, instantes depois, já em declarações aos
jornalistas, a escritora relativizou o alcance da sua ideia de parar de
escrever, usando então o humor para frisar que essa sua posição vale
tanto como "o irrevogável" do actual vice-primeiro-ministro Paulo
Portas.
Num discurso curto, que antecedeu o do Presidente da
República, Maria Velho da Costa salientou que a literatura não é só a
escrita, mas, igualmente, "o poder da palavra e o seu gosto, descrita ou
dita por aqueles que a falaram, escreveram e inscreveram em nós um modo
de ser para a escrita".
"A literatura é por certo uma arte, um
ofício, com o seu tempo de aprendizagem, treino, de escuta incansável,
mas também a palavra no tempo, na história, no apelo do entusiasmo do
que pode ser lido ou ouvido, a busca da beleza ou da exactidão ou da
graça do sentir", disse, antes de aludir ao carácter repressivo dos
regimes totalitários.
"Os regimes totalitários sabem que a palavra
e o seu cume de fulgor, a literatura e a poesia, são um perigo. Por
isso queimam, ignoram e analfabetizam, o que vem dar à mesma atrofia do
espírito, mais pobreza na pobreza", acrescentou.
Lusa/SOL
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