JN
Técnicos de contas pagam dívida a viúva com casa penhorada
Salomé Filipe com João Paulo Costa
Em
24 horas, um movimento que surgiu no Facebook, num grupo de técnicos de
oficiais de contas, angariou 1900 euros para pagar a dívida que uma
viúva, de Ílhavo, tinha ao Fisco. A casa da família foi salva.
Global Imagens
Houve
quem doasse apenas um euro. Houve quem doasse mais de cem. O certo é
que, em menos de 24 horas, um movimento espontâneo que nasceu no
Facebook - num grupo ao qual pertencem mais de quatro mil técnicos
oficiais de contas - conseguiu angariar os 1902,16 euros que Maria (nome
fictício) necessitava para que a sua casa, onde vive com dois filhos e
dois netos menores, na Colónia Agrícola, em Ílhavo, não fosse vendida em
leilão pelas Finanças.
Paulo
Gama, Manuela Mendes e Susana Eusébio, oriundos de diversos pontos do
país, são alguns dos nomes da solidariedade que salvou a família
ilhavense. A eles juntaram-se centenas de pessoas - entre as quais, não
só técnicos oficiais de contas, como eles, mas também militares, entre
outros - que em tempo recorde angariaram o dinheiro necessário. Na
sexta-feira, foram diretamente às Finanças, pagaram a dívida de uma
pessoa que não conhecem e, em troca, receberam a gratidão eterna de
Maria. A mulher, de 52 anos, viúva, é funcionária de uma seca de
bacalhau e viu a sua casa ser penhorada, pelas Finanças, devido a uma
dívida de 1900 mil euros relativa ao imposto municipal sobre imóveis
(IMI) e ao imposto único de circulação.
"Revoltámo-nos quando
soubemos da história pela Comunicação Social. Não se pode tirar uma casa
a uma pessoa que não a pode pagar. Onde é que aquelas crianças iam
dormir?", questiona, ao JN, Paulo Gama, 40 anos, de Castelo Branco.
Há dinheiro para cabaz
A
casa de Maria, construída pelo seu marido falecido, ia ser colocada em
leilão eletrónico na quarta-feira, por um mínimo de 19 500 euros. "A
Susana Eusébio partilhou a história no grupo de contabilistas do
Facebook. E a Manuela, de Lisboa, foi por sua iniciativa a uma
repartição das Finanças e pagou os 20% da dívida para que o leilão fosse
adiado 15 dias", recorda Paulo, técnico oficial de contas. Ao saber do
gesto da colega, Paulo prontificou-se para pagar com ela a primeira
tranche. E, de imediato, tratou de tudo para que fosse angariado o
restante dinheiro, até perfazer os 1900 euros.
"As crianças não
podem pagar pelos erros dos pais. A lei é injusta", sublinha Paulo,
frisando que o grupo não agiu para ter "qualquer reconhecimento
público".
No final das contas, o montante arrecadado ultrapassou o
valor previsto. Há mais, pelo menos, 650 euros, de donativos que as
pessoas quiseram continuar a fazer chegar, para o grupo oferecer um
cabaz com bens de que a família necessite.
"Só posso agradecer do fundo do coração a estes anjos", disse Maria, ao JN
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