E se uma cirurgia ao estômago curar a diabetes?

Novas descobertas sugerem tratamento alternativo e abrem um caminho para a cura da diabetes. Os investigadores consideram-nas o maior avanço dos últimos 100 anos no combate a uma doença que afeta um milhão de portugueses e um a cada 11 adultos no mundo inteiro

Rui Antunes
"O tratamento mais poderoso até hoje", "a abordagem mais radical para o controlo da diabetes desde a introdução da insulina nos anos 20" ou "o mais próximo que alguma vez estivemos de encontrar uma cura".
As palavras de Francesco Rubino sobre as novas descobertas para o tratamento da diabetes tipo 2 são bem elucidativas do potencial que os investigadores lhes atribuem. As conclusões de um estudo a cargo de 45 especialistas de todo o mundo, incluindo este professor universitário de cirurgia metabólica e bariátrica no King's College de Londres, revelam que as operações para tratar a obesidade através da redução do tamanho do estômago - como a de bypass gástrico ou a colocação de uma banda gástrica - tiveram um de dois efeitos em 80% dos pacientes com diabetes do tipo 2: "Ou a diabetes entrou em aparente remissão ou os níveis de açúcar no sangue estabilizaram com medicação reduzida ou ao combinar exercício físico com dieta". Ao fim de cinco anos após a operação bariátrica (de redução do estômago), apenas uma pequena percentagem dos doentes (inferior a 5%) continuou a precisar de insulina ou outros injetáveis para controlar os níveis de açúcar no sangue.
Além de abrir a porta a um tratamento alternativo da diabetes em indivíduos obesos, "estas novas diretrizes aconselham a recorrer aos referidos procedimentos quando as pessoas não conseguirem controlar os níveis de açúcar no sangue de outra forma", avança Francesco Rubino num artigo ontem publicado na revista científica Nature. Segundo este especialista italiano, sabe-se agora "que os efeitos drásticos da cirurgia na diabetes não são uma simples consequência da perda de peso", pois as evidências mostram que "as alterações na anatomia gastrointestinal influenciam diretamente a homeostase da glicose" - que é como quem diz o equilíbrio dos níveis de açúcar no sangue.
Estas conclusões - ontem divulgadas pelo jornal inDiabetes Care, da Associação Americana da Diabetes - resultam de uma investigação à escala global com base em 11 estudos clínicos realizados na última década. Na opinião de Francesco Rubino, são suscetíveis de incentivar novas pesquisas sobre as causas da diabetes "e até de renovar a esperança de encontrar a cura", como a realidade está a demonstrar. "Médicos e investigadores já estão a tentar replicar os efeitos da cirurgia gastrointestinal através de intervenções menos invasivas", adianta.
Dados da Federação Internacional de Diabetes (FID) indicam que existem 415 milhões de diabéticos em todo o mundo - um em cada 11 adultos sofre do problema -, sendo mais de 90% afetados pelo tipo 2 da doença. Portugal acompanha a média global, com quase um milhão de pacientes. É considerado um problema de saúde pública e tem tendência a agravar-se. As previsões da FID apontam para que, em 2040, o número de diabéticos dispare para 642 milhões. A doença é a principal causa de cegueira, falha renal, amputações, ataques cardíacos e avc's. De acordo com a FID, a cada seis segundos morre uma pessoa em consequência da diabetes.

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