Que dizem as moscas sobre a vida humana

Equipa de portugueses estuda longevidade de insecto que ajudará a perceber tempo de vida dos humanos
CARLA SOARES

Um trabalho conduzido por investigadores portugueses sobre uma espécie da mosca-da-fruta poderá ajudar a perceber a razão pela qual alguns humanos vivem mais do que outros. Numa investigação inovadora em Portugal, a equipa coordenada pelo cientista Jorge Vieira sequenciou, por completo, o genoma de um animal.

foto ARTUR MACHADO/LUSA
Que dizem as moscas sobre a vida humana
Jorge Vieira, investigador do Instituto de Biologia Molecular e Celular

O que faz com que algumas moscas vivam muito e outras pouco foi a pergunta que esteve na origem do trabalho. E, mais especificamente, qual a variação e em que genes. Para encontrar respostas, a equipa sequenciou o genoma da Drosophila Americana, umas das espécies da mosca-da-fruta que apresenta uma das maiores variações nos padrões de longevidade.

Ao JN, Jorge Vieira, investigador do Instituto de Biologia Molecular e Celular (IBMC), no Porto, conta que trouxeram "mais de 100 moscas" que apanharam nos EUA com uma mistura de cerveja e levedura de padeiro. Nuno Fonseca, do CRACS (Center for Research in Advanced Computing Systems), é outro investigador deste projecto.

"Conseguimos fazer algo muito difícil que é sequenciar e descodificar o genoma", explicou Jorge Vieira. E é possível identificar, de forma rápida, características em genes que explicam por que motivo "indivíduos" da mesma espécie apresentam níveis diferentes de longevidade e de resistência ao frio ou de tempo de desenvolvimento. As primeiras conclusões do trabalho surgem de duas estirpes que foram sequenciadas: uma com vida longa e outra com pouca longevidade.

O processo passou por isolar fêmeas em frascos e por acompanhar a reprodução entre irmãos para manter as características. Os tempos de vida variam entre os 20 e os 120 dias, num "ambiente ideal" de 25 graus. Mas, diz Jorge Vieira, as moscas "podem viver mais de seis meses" com 18 graus.

Foram identificados já dois genes "que explicam cerca de 35% da variação". São "da família dos Matusalém", nome de figura bíblica conhecida por ter tido uma vida muito longa. Conseguiram sequenciá-los com um apoio de 10 mil euros e equipamento de um laboratório austríaco. Mas estes genes, "infelizmente, não existem nos humanos". Porém, o estudo está longe de terminar. Jorge Vieira nota que "são todos animais e, portanto, têm uma base genética comum". A partir de genes com função comum, será possível explicar a longevidade do ser humano. Identificadas foram, também, estirpes expostas a frio intenso. Uma demorou mais do que outra a recuperar do coma. Neste caso, por exemplo, há genes que têm uma função equivalente.

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