
Orgasmo. Masturbação. Ejaculação. Não, não core, que não é preciso. Mas se a temática lhe provoca chiliques de toda a ordem, se fica à beira da síncope sempre que pensa que um dia vai ter de falar sobre essas e outras intimidades com as suas criancinhas, então está mesmo a precisar de ir ao Pavilhão do Conhecimento, que acabou de inaugurar a exposição “Sexo… e então?!”. Se, por outro lado, é um pai descontraído e cool, para quem falar de sexo com os filhos é o mesmo que falar de celtas e iberos, é garantido que vai adorar lá ir.
“Sexo… e então?!” é, provavelmente, a melhor das exposições que o Pavilhão do Conhecimento já apresentou (e foram muitas, e todas boas). Foi produzida e apresentada na Cité des Sciences et de l’Industrie de La Vilette, Paris, onde recebeu mais de 360 mil visitantes. Dirige-se ao público pré-adolescente (9 aos 14 anos) mas deve ser vista por todas as pessoas, a partir dos nove.
O título da exposição não podia ser melhor. Porque é isso mesmo que se sente, depois da visita. É de sexo que se fala, e então? Qual é o bicho de sete cabeças? Porque é que se engole em seco tantas vezes para falar de uma coisa tão natural como a sede?
Rosalia Vargas, directora da Ciência Viva e do Pavilhão do Conhecimento, sublinha o carácter familiar da exposição e garante que os pais e os educadores podem – e devem – fazer a visita, sem medos: “Podem vir à vontade porque o modo como os temas estão apresentados é descontraído e inteligente, com muito humor, o que ajuda sempre. O facto de ser uma exposição com desenhos animados intimida menos. Porque os miúdos não se confrontam com imagens de outros miúdos, o que seria um confronto consigo próprios. São bonecos, com piada. De certo modo é como se fosse uma fantasia, sendo uma realidade.”
Tal como no sexo, em que primeiro se dá lugar aos preliminares e só depois ao acto propriamente dito (dependendo dos casos, claro, mas isso agora não vem a propósito), também a nova exposição do Pavilhão do Conhecimento começa devagarinho e depois vai aquecendo. Primeiro explica-se o que é estar apaixonado, fala-se de hormonas, depois caminha-se para os beijos, os linguados (alguns pais nesta altura podem começar a sentir as palmas das mãos a suar), depois a puberdade e as alterações do corpo, até que, por fim ,vêm as relações sexuais, entre homens e mulheres ou pessoas do mesmo sexo (estávamos atentos a ver se lhes tinha fugido o pezinho para o preconceito, mas felizmente não).
Entre os muitos painéis informativos, há jogos divertidíssimos (maravilhoso o coração de peluche que se abraça enquanto se pensa no amado, com um medidor da intensidade do abraço e uma música correspondente; genial o feto que reage aos diferentes tipos de alimentos que a mãe consome; de chorar a rir o boneco da puberdade, a quem cresce uma pila gigantesca e a boneca a quem saltam umas mamas bem ao estilo de Samantha Fox; imperdível a máquina que imprime cartas de amor; cómicos os bonecos que estendem a língua um para o outro) e filmes entre o enternecedor e o absolutamente esclarecedor. Há ainda uma zona interdita a adultos, onde os miúdos podem ver respondidas algumas questões íntimas que os assaltam como “Já não me apetece que os meus pais me vejam nu. Como é que os faço compreender?”
A exposição engana porque parece curta e, afinal, demora umas duas horas para se ver com vagar e experimentar tudo. Quando se sai, fica uma sensação boa de dever cumprido. E uma boa disposição contagiante. E o melhor de tudo: sai-se com as respostas às perguntas difíceis que eles fizeram ou queriam fazer. No fundo, é como passar a batata quente a quem sabe bem o que fazer com ela. Quer melhor do que isto?
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