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Ocupar a viúva "perdida" depois de 20 anos a tratar do marido

De cada vez que Maria José, 66 anos, fala no que aconteceu, embarga-se-lhe a voz. "Estou a ir agora ao fundo", constata a viúva, que perdeu o sentido da vida em Dezembro passado.

Passou 20 anos a cuidar do marido atormentado por problemas respiratórios e, de repente, ficaram apenas as memórias e o vazio. Sónia Rei e Rita Costa, enfermeiras com formação em saúde mental e gerontologia, estão ali à sua frente, na sala de estar, para a tirar desse "fundo", para a envolver num projecto que a estimule e a faça sentir-se novamente útil.

Para já, avaliam a utente para perceber em que grupo se poderá vir a enquadrar. Fazem perguntas, querem saber como estão os conhecimentos, a matemática e a memória de Maria José Carvalho. A utente foi encaminhada para o projecto Envelhecimento Activo "para ultrapassar esta fase de solidão", participando em sessões de grupo, teóricas e práticas, que a ajudem a exercitar a mente e o corpo e a sentir-se útil para a comunidade.

Aprender a preparar refeições saudáveis, que vão contribuir para a melhoria da sua qualidade de vida, fazer caminhadas para combater o entorpecimento dos membros, aprender a abordar temas como o envelhecimento, a vida e a morte, para melhor os digerir. Se souber coser ou tricotar, por exemplo, Maria José poderá ajudar instituições de solidariedade com quem a UCC da Senhora da Hora fará parcerias e, assim, dar um novo sentido à vida.

O projecto Envelhecimento Activo só arranca dentro de um mês, mas Maria José está convencida, já disse que sim a tudo. Tem "a quarta classe de antigamente", mas interessa-se pelas coisas que Sónia e Rita estão a anunciar. Neste momento só quer agarrar a oportunidade que lhe bateu à porta para sair de casa e enfrentar uma nova realidade.

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