Hollande defende que não devem ser sempre os mesmos a pagar a crise
Não podem ser sempre os portugueses e os
espanhóis a pagar a fatura. Foi esta a ideia que François Hollande
transmitiu, na véspera de mais uma cimeira europeia, numa entrevista
concedida ontem a seis jornais europeus, no Eliseu, em Paris, em que não
poupou críticas a Angela Merkel: a líder alemã está mais preocupada com
problemas domésticos do que com a resolução da crise do euro.
François Hollande deu uma entrevista no Eliseu a
seis órgãos de comunicação europeus. O francês reitera que o crescimento
é a única saída de crise europeia
Imagem: AFP PHOTO/FRED DUFOUR
Perante uma Alemanha que protela os planos de união bancária
acordados entre os membros da zona euro em junho, Hollande promete
inverter a situação e continuar com a bandeira do crescimento hasteada,
em detrimento da austeridade que está a afogar os países da europa do
sul.
Na batalha que esta quinta e sexta-feira põe frente a frente os
sócios europeus, Hollande diz ir acelerar a resolução do problema da
crise do euro.
O presidente francês pretende demonstrar que a austeridade não é uma
fatalidade e que existem caminhos para travar o proliferação da crise
financeira na Europa.
Numa entrevista concedida a seis órgãos de comunicação sociais
europeus – Guardian, El País, Süddeutschland Zeitung, Le Monde, La
Gazzetta e La Stampa – François Hollande advertiu para a necessidade de
reuniões mensais dos líderes nacionais dos 17 países da zona do euro,
para assim acabar com os chamados encontros de "última chance" que têm
apenas contribuído para "sucessos fugazes".
Crise quase resolvida
Numa união a duas velocidades, a união política, segundo Hollande, já
não é a prioridade e um tratado constitucional também está fora de
questão, pelo menos neste momento.
Entre as medidas defendidas por Hollande estão a diminuição dos
custos dos empréstimos a Portugal, Espanha e Itália. Para o líder
socialista, a saída da Grécia da união económica também está fora de
questão.
“Sobre a saída da zona euro da crise, estamos perto, muito perto.
Tomámos boas decisões na reunião de 28 e 29 de junho, que temos o dever
de aplicar rapidamente", admitiu, citado pelo Le Monde.
"Primeiro, solucionando definitivamente a situação da Grécia, que tem
feito tantos esforços e que deve permanecer na zona euro. Depois,
respondendo aos pedidos dos países que têm aplicado as reformas
esperadas e que devem passar a obter financiamento com taxas razoáveis.
Finalmente, aplicando a união bancária", explicou o líder francês.
"Quero que todas estas questões estejam solucionadas até ao final do
ano. Poderemos então iniciar a mudança e o aprofundamento da nossa
união", concluiu.
Quanto às preocupações da Alemanha, Hollande é assertivo e afirma que
questões de política doméstica e eleitoral não devem fazer parte do
caminho de resolução da questão europeia: Merkel "é muito sensível a
questões de política interna e às exigências do seu parlamento. Eu
percebo e consigo respeitar. Mas todos nós temos a nossa opinião
pública. A nossa responsabilidade comum é pôr os interesses da Europa em
primeiro lugar", considerou Hollande.
"Todos nós participamos nesta solidariedade. Franceses, alemães, tal
como todos os outros europeus que fazem parte do Mecanismo Europeu de
Estabilidade. Vamos parar de pensar que um país vai pagar por todos os
outros. Isso é falso", garantiu o socialista.
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