EXPRESSO
"A fome de cultura é a raiz de todas as fomes"
"Considero que o aspeto mais positivo da nossa adesão à
Uniao Europeia foi a criação de uma elite altamente qualificada. E
agora estamos a expulsá-los, e ao fazer isso estamos a contribuir para
prejudicar irremediavelmente o país a prazo", acrescentou José Eduardo
Franco: "Estamos a expulsar o nosso ouro. Daqui a uns anos vamos ter de
os comprar se os quisermos cá ter de novo".
O "Manifesto contra a Crise - Compromisso com a Ciência, a Cultura e as Artes em Portugal"
vai ser apresentado no próximo dia 29, às 18h30, na Fundação
Gulbenkian, em Lisboa, e pretende "tornar pública a relevância
estratégica da ciência, da cultura e das artes para o nosso futuro, como
comunidade política aberta e dinâmica.
No dia 29, vai ser aberta uma plataforma pública para subscrição do Manifesto.
Um período semelhante à Inquisição
A ideia de fazer este Manifesto surgiu no âmbito das
Tertúlias Letras com Vida , organizadas pelo CLEPUL, um centro de
investigação da Faculdade de Letras de Lisboa, fundado no ano da
Revolução dos Cravos, e pela Sociedade Portuguesa de Autores (SPA).
"Fomos interpelados por quem participa nas Tertúlias -
uma plataforma com mais de 30 instituições no âmbito da cultura e da
ciência - e decidimos tomar uma posição", disse ao Expresso Annabela
Rita da direção do CLEPUL.
"Temos de saber tirar lições da história, e esta
mostra-nos que a saída de um escol intelectual do país corresponde
sempre ao início de um ciclo recessivo, porque desaparece a massa
crítica que pode contribuir para a construção" do país, acrescenta
Annabela Rita.
José Eduardo Franco diz que "precisamos de um
compromisso cultural das empresas. A situação que vivemos atualmente,
pode ser comparada ao período da Inquisição e consequente expulsão dos
judeus. Expulsámos a nossa melhor elite, e esse facto conduziu-nos a
uma situação de atraso e desfasamento que se prolongou no tempo".
Novas Conferências do Casino
Os subscritores do Manifesto querem um debate sobre
temas de ruptura na sociedade portuguesa, e vão promover ainda em 2014
as Novas Conferências do Casino.
"Este Manifesto não é partidário. Mas é uma tomada de
posição sobre a política cultural de construção do país . Este processo
de empobrecimento que se vive atualmente não acontece só em Portugal. É
internacional, e sentimos que as ciências humanas estão a sentir esse
estrangulamento", disse Annabela Rita.
Os mais de 130 signatários iniciais do Manifesto criticam as políticas que levaram à "saída de portugueses qualificados do país, cerca de 20% de licenciados, especialmente jovens, penhor do nosso futuro".