Cohitec: a cura da malária e o HIV detetado em três dias
15/07/2015
Um dispositivo que prevê a probabilidade de enfartes em menos de uma hora e outro que faz o diagnóstico do HIV em três dias. A malária pode ter uma cura. E alguns cancros de pulmão também. Eis a mais recente fornada dos projetos Cohitec.
A bOptimum tem por objetivo desenvolver uma
solução que permite estimar o consumo de água de uma cidade ao longo de
um período de tempo. Com estas estimativas, a empresa pretende ajudar
criar uma ferramenta que ajuda as distribuidoras de água a poupar
dinheiro com a bombagem de água para os diferentes reservatórios de uma
cidade. O segmento está avaliado em 660 milhões de euros. Em 2023, a bOptimum conta estar a faturar sete milhões de euros.
João Nunes, líder da Daila, não tem medo
da ambição: «por ano, são feitos 200 milhões de testes de diagnóstico do
HIV. Nós queremos que, no futuro, esses 200 milhões de testes passem a
usar o Nano-V». Como muitos dos 15 projetos que desfilaram ontem no
encerramento do programa de empreendedorismo Cohitec, em Lisboa, a Daila
ainda não tem um negócio. João Nunes não tira o pé do acelerador do
otimismo: «queremos criar uma empresa até ao final do ano». O roteiro da
Daila também prevê a estreia comercial para 2019, mas esse objetivo só
será alcançado se a startup garantir cinco milhões de investimento. Sem
esse dinheiro, a Daila não poderá desenvolver um dispositivo que faz o
diagnóstico do vírus da Sida em três dias – um período bastante inferior
ao período mínimo de um mês exigido pelos testes de diagnóstico atuais.
O
programa Cohitec de 2015 pode não salvar o mundo – mas tem seguramente
algumas das ideias mais ousadas que alguma vez saíram dos laboratórios e
universidades portuguesas nas denominadas ciências da vida. No
auditório do Pavilhão do Conhecimento, desfilaram com a diferença de
minutos um projeto que promete a cura para a malária (Anti-Malarials),
uma solução que pretende detetar a probabilidade de ocorrência de
enfartes cardíacos em menos de uma hora (Sumthink), uma possível cura
para um dos tipos de cancro do pulmão (Nanoplex); uma solução de dosagem
mais adequada para anestesias (MedInfusion), e ainda um equipamento que
poderá ser usado para detetar diferentes micro-organismos que estão na
origem de infeções, e que deverá começar por incidir no diagnóstico da
pneumonia (MDID) .
Mas nem só de ciências da vida vive o
Cohitec. Eis outras ideias que facilmente se colam ao imaginário de
qualquer futurista: a startup Ocean Swarm deu a conhecer esquadrilhas de
pequenas embarcações robóticas que localizam cardumes prontos a pescar;
a bOptimum prevê criar um sistema que estima consumos de água de uma
cidade e reduzir os consumos de energia derivados da bombagem para os
diferentes reservatórios; e a CoolMeat desenvolveu uma enzima que torna a
carne mais tenra.
O entusiasmo de quem conclui o prestigiado
curso de empreendedorismo é notório – e já faz parte da coreografia de
quem tem de “vender a ideia” a investidores, jornalistas, especialistas
ou outros curiosos que geralmente acompanham o lançamento de novos
projetos desenvolvidos no programa Cohitec.
Pedro Vilarinho,
coordenador do programa Cohitec, lembra que, entre uma boa ideia e um
grande negócio, ainda vai um percurso longo: «Estes 15 projetos terão de
ser analisados a fundo, para se poder saber qual o verdadeiro potencial
que têm. No passado, houve projetos que achávamos que tinham potencial e
acabaram por se revelar desilusões, e também outros em que não
acreditávamos tanto e que se revelaram verdadeiras surpresas».
Nem
todos os 15 projetos da mais recente “fornada” do programa Cohitec vão
seguir em frente – e, mesmo entre os que são selecionados para etapas
posteriores, há equipas que «desmotivam e regressam à universidade ou
que se descobre que não estavam à altura das exigências», recorda Pedro
Vilarinho.
Para quem quer seguir em frente, há um objetivo em
comum: chegar ao mercado internacional e disputar segmentos que podem
vir a valer centenas ou milhões de euros. Entre os casos de sucesso,
destaca-se o grupo de seis empresas que se iniciaram no Cohitec e que já
concluíram toda a fase de crescimento estando agora a chegar ao
mercado, com produtos ou provas de conceito (ACS - Advanced Cyclone
Systems, 5ensesinFood, Omniflow, Consumo em Verde - Biotecnologia das
Plantas; Abyssal; e BioMode). No total valem mais de 40 milhões de euros
e contam com 20 patentes registadas. Duas delas faturaram um total de
seis milhões de euros.
Daniel Bessa, diretor-geral da associação
Cotec, fechou a sessão de encerramento do Cohitec com uma certeza e um
desafio: «É claro que temos boa ciência em Portugal e o nosso trabalho é
transformá-la em negócios, empresas e empregos».
O programa
Cohitec arrancou em 2004, com o objetivo de promover a conversão de
cientistas em empresários. Em 12 edições, passaram pelo programa Cohitec
151 projetos de negócio de base de tecnológica, que deram origem a 26
startups, que atraíram 35 milhões de euros de investimento.
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