PÚBLICO
Investigadores do Minho desenvolvem um GPS para detectar pedras nos rins
O procedimento usa dois sensores para descobrir onde está o cálculo
renal em metade do tempo dos métodos habituais. Prevê-se que comece a
ser aplicado em doentes a partir de 2017.
No Instituto de Investigação em Ciências da Vida e Saúde (ICVS), na
Universidade do Minho, em Braga, foi desenvolvido um método para
encontrar pedras nos rins com a ajuda de sensores. Estima-se que o novo
método, que está a ser desenvolvido nos últimos anos, chegue ao Hospital
de Braga em 2017. A pedra nos rins afecta cerca de 55 milhões de adultos na Europa,
segundo dados de 2012 da Associação Europeia de Urologia (EAU, na sigla
em inglês). E desde 1982 o número de pessoas afectadas duplicou. O que
está a causar isso? As alterações no estilo de vida, que levaram ao
aumento da obesidade e das síndromes metabólicas. A maioria dos
afectados são homens, mas a mudança dos hábitos de vida também está a
provocar mais cálculos renais nas mulheres, de acordo com a Associação
Portuguesa de Urologia. “Na Europa, estima-se que cerca de 5% da
população tenha litíase renal [presença de pedras nos rins]. Embora não
existam estatísticas reais sobre a prevalência desta doença em Portugal,
calcula-se que seja semelhante a outros países europeus, nomeadamente
Espanha, onde a prevalência é de cerca de 5%”, indica-nos Emanuel
Carvalho Dias, um dos urologistas do ICVS responsáveis pelo novo método
de remoção de pedras nos rins. Mas o que são estas pedras? São estruturas sólidas provocadas pela
cristalização nos rins de minerais ou sais de ácidos. Depois, de
formadas, podem manter-se no rim ou descer pelo tubo que faz uma ligação
à bexiga, o uréter. Se em muitos casos a pedra desaparece sem qualquer
intervenção, em cerca de 20% dos casos causa uma dor forte e tem de ser
realizada uma cirurgia. No método convencional, para se remover a
pedra dos rins, é necessário usar uma agulha que atravessa a pele, assim
como fazer radiografias. “Torna-se difícil conseguir picar o rim e
tirar as pedras maiores”, diz ao PÚBLICO Emanuel Dias sobre as
dificuldades encontradas numa cirurgia. Testes em porcos Como
vai ser então utilizado o novo método? Depois de aplicar uma anestesia,
usam-se dois sensores: um electromagnético, que funciona com ondas
pulsadas de baixa frequência e que penetra no rim, e outro externo. O
primeiro sensor é colocado dentro do rim através de um
ureterorrenoscópio flexível, um instrumento que penetra na uretra, na
bexiga e segue até ao rim. Por fim, este sensor interno emite um sinal
vermelho, que e visível num ecrã assinalando assim o local onde deve ser
feita a picada. Por fora, os médicos utilizam o segundo sensor, o
externo, que está sempre a emitir um sinal verde. Quando os pontos dos
dois sensores se interceptam, é então o momento de fazer a picada com a
agulha. Para ajudá-los, os urologistas têm um sistema de navegação e o ecrã onde
surgem os pontos a três dimensões obtidos pelos sensores. “É como se
fosse o GPS da pedra nos rins”, afirma Emanuel Dias. Encontrada a pedra,
é necessário destruí-la. Aqui o método passa a ser o tradicional e já
conhecido: o processo ultra-sónico. Neste novo método, além de se
simplificar o processo de remoção da pedra, pois o cálculo é detectado
de forma precisa, o paciente não fica exposto aos raios X e também se
evitam muitas hemorragias associadas à cirurgia. “Este é um método
completamente novo”, afirma Emanuel Dias, que desenvolveu o trabalho em
conjunto com os investigadores Estevão Lima e João Vilaça, também do
ICVS.
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