Canakinumab: anti-inflamatório para a artrite pode salvar-lhe a vida
U.S. Pacific Fleet / Flickr

O anti-inflamatório Canakinumab é utilizado no tratamento da
inflamação das articulações. Diminuindo a inflamação que pode provocar o
entupimento das artérias, pode também diminuir o risco de ataque
cardíaco e até o crescimento de alguns tipos de cancro: é este o objeto
de estudo do ensaio agora publicado no The New England Journal of Medicine.
O poderoso anti-inflamatório, que os investigadores classificam como “uma nova fronteira” no tratamento de doenças cardíacas,
mostrou-se capaz de diminuir em 15% o risco de ataque cardíaco, em 50% a
probabilidade de morrer de cancro e ainda de proteger contra doenças
inflamatórias como a gota ou a artrite.
A experiência envolveu mais de 10 mil pessoas que já
tinham sofrido um ataque cardíaco mas que não tinham recebido qualquer
diagnóstico de cancro. A cada três meses, receberam uma injeção com o
medicamento, aprovado em 2009 nos EUA e na Europa para o tratamento de
síndromes auto-inflamatórias, e foram monitorizadas ao longo de 4 anos.
Um dos investigadores, Paul Ridker do Brigham and
Women’s Hospital, de Boston, nos Estados Unidos, considera que os
resultados têm “implicações de longo alcance”. “Pela primeira vez, fomos
capazes de mostrar claramente que reduzir a inflamação,
independentemente do colesterol, reduz o risco cardiovascular“, congratula-se.
Os ataques cardíacos ocorrem frequentemente em pessoas com níveis
normais de colesterol mas risco de inflamação crónica, o que levou os
investigadores a debruçarem-se sobre os efeitos da inflamação na saúde do coração.
O efeito anti-cancerígeno do Canakinumab também entusiasmou
os investigadores, que falam num corte de 50% no número de mortes por
cancro, com resultados particularmente animadores em casos de cancro do
pulmão.
Os médicos não acreditam que o Canakinumab possa impedir o aparecimento e desenvolvimento de cancro, mas sim que possa diminuir o seu crescimento.
Neste aspeto, no entanto, serão necessários novos estudos, uma vez que
este ensaio não foi concebido especificamente para testar os efeitos do
medicamento nos tumores.
O grande entusiasmo está, por isso, no lado da saúde cardíaca.
“Ao longo da minha vida, pude ver três grandes eras da cardiologia
preventiva. Na primeira, reconhecemos a importância da dieta, do
exercício e da cessação tabágica. Na segunda, vimos o valor tremendo dos
medicamentos de redução dos lípidos, como as estatinas. Agora, estamos a
abrir a porta para a terceira era”, considera Ridker.
Mas este não é um entusiasmo sem reservas. O uso de Canakinumab aumentou o risco de infeções fatais num em cada mil pacientes tratados, com os mais idosos e diabéticos a revelarem-se os mais vulneráveis.
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