Investigadores fazem nascer alimento a partir de eletricidade e dióxido de carbono

VISÃO
Lappeenranta University of Technology

Ainda é cedo para falar em resolver os problemas da fome no mundo, mas os resultados de uma experiência com um reator especial são promissores

Água, dióxido de carbono e micróbios. Tudo junto num pequeno bioreator, onde os ingredientes são submetidos a eletrólise (decomposição por meio da corrente elétrica, neste caso com recurso a painéis solares). A receita pode não fazer crescer água na boca, mas o resultado é cientificamente "delicioso": um material sólido com um perfil nutricional semelhante ao de um alimento básico.
Para já, foram precisas duas semanas para uma série de pequenos reatores, do tamanho de chávenas de café, produzirem uma colher cheia destas proteínas unicelulares, mas os investigadores esperam que, a partir desta experiência, um dia seja possível usar este alimento em voos espaciais de longo curso ou até mesmo combater a fome nas regiões mais pobres do mundo. Sobretudo porque os ingredientes são fáceis de encontrar: "Na prática todos os materiais estão disponíveis a partir do ar", afirma Juha-Pekka Pitkänen, o investigador que liderou a experiência e que lidera também o Centro de Investigação Técnica VTT, na Finlândia, parceiro da Universidade de Lappeenranta neste projeto.
O responsável explica que a ideia é que possa chegar-se a uma espécie de reator doméstico para a produção de proteínas. E não é só a alimentação humana que está em vista: usada como substituto para a forragem, pode ajudar a libertar terra para outros fins.
Este processo de criação de alimento a partir da eletricidade pode ser até 10 vezes mais eficiente do que a fotosíntese comum, usada pelas plantas para se alimentarem.
A equipa já está focada no desenvolvimento da tecnologia para permitir, dentro de uma década, estimam, ter uma produção em quantidade suficiente para poder ser testada como alimentação humana e animal.
"A longo prazo, a proteína criada com eletricidade pode ser usada na cozinha", acredita Pitkänen, satisfeito com a riqueza nutricional do produto: mais de 50% de protéina e 25% de hidratos de carbono. O restante corresponde a gordura e ácidos nucleicos.

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