Equipa de cientista português descobre como travar bactéria muito comum em ambiente hospitalar e que mata milhares de pessoas



O estudo foi publicado na prestigiada revista Nature e já há farmacêuticas de olho na novidade

O título da investigação, publicada na Nature Microbiology, assusta qualquer leigo, mas Pedro H. Oliveira, do Departamento de Genética da Faculdade de Medicina do Monte Sinai, em Nova Iorque, nos EUA, não demora mais do que um quarto de hora a traduzir tudo por miúdos: “há uma proteína presente na mais comum das infeções hospitalares e o que descobrimos foi uma forma de alterar o seu ADN e reduzir a sua eficácia”, explica o cientista, numa conversa por Skype.  
A história começou há cerca de quatro anos, quando se generalizou uma nova técnica que permite fazer a sequenciação do ADN. Ou seja, ter acesso ao código genético e também notar quando há alterações. “É o que chamamos de epigenética”, explica. O objetivo, então, era aplicar essa técnica a uma bactéria muito particular – chamada Clostridioides difficile – que é muito comum em ambiente hospitalar e era responsável por várias infeções em doentes internados no Hospital de Mount Sinai, em Nova Iorque. Afeta, sobretudo, o trato intestinal, provocando por exemplo diarreias, mas pode também culminar numa infeção generalizada, vulgo septicemia, e no limite, a morte.  
“Nos EUA e na Europa, esta bactéria é responsável pela morte de milhares de pessoas”, atesta ainda Pedro H. Oliveira, acrescentando que ali encontra o microcosmos ideal para a sua sobrevivência – e que é o nosso organismo. Além disso, transmite-se pelas fezes e, não havendo uma boa higiene, rapidamente ente passa para os manípulos das portas e afins. “Daí que seja muito fácil propagar-se”, sublinha o investigador.  
A hipótese então era usar a nova técnica de sequenciação e alteração do ADN para agir sobre para agir sobre uma proteína da bactéria – a metiltransferase – e que é responsável pela modificação das células infetadas. “Se inativarmos a proteína, a célula perde a sua capacidade de se reproduzir e isso reduziria as infeções.” 
Pedro H. Oliveira acredita ainda que esta técnica poderá aplicar-se a todas as células patogénicas que infetam o nosso organismo – há sempre uma proteína no caminho bem-sucedido das bactérias. “Ou pelo menos nos fenómenos de grande virulência, nas resistências aos antibióticos…”. Ou seja, é uma descoberta que poderá trazer novidades no campo do tratamento e da prevenção – e a verdade é que a equipa já foi contactada por farmacêuticas, com vista a desenvolver tratamentos generalizados. “Agora, esperamos que haja novidades até ao final do ano”, remata o investigador.  

Os números das infeções hospitalares em Portugal

Só em Portugal, as infeções hospitalares matam 1158 pessoas por ano, estimando-se que o número possa atingir os 49 443 casos mortais até 2050, segundo um recente relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE). Em termos práticos, a condição mata mais no país do que acidentes de viação (512 mortos no local do acidente, contas de 2018).

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