SOCIEDADE Elvira Fortunato: “Se um japonês ou um americano conseguem, nós também conseguimos
Aos 56 anos, uma das cientistas portuguesas mais premiadas de sempre, pioneira mundial na eletrónica transparente e na eletrónica de papel, fala da vida pessoal, da carreira, explica qual é o caminho para o sucesso na investigação científica e revela as suas ambições. O vencedor do Prémio Nobel da Física é anunciado na próxima terça-feira VIRGÍLIO AZEVEDO Entrevista Já perdeu a conta aos prémios que ganhou, diz apenas que “são muitos, umas dezenas”, mas o Horizon Impact Award 2020, o mais recente, que contemplou o seu projeto Invisible na área da eletrónica transparente, teve um impacto internacional que não esperava. “Tenho recebido mensagens de parabéns de todo o lado, mesmo de pessoas que nem conheço”, conta Elvira Fortunato, que considera a hipótese de ganhar o Nobel da Física “uma especulação”. O maior prémio que ambiciona é antes “finalizar o laboratório de excelência na área da microscopia e materiais avançados”, para “deixar um legado às gerações vindouras”. E quer, obviamente, abrir caminhos para que a eletrónica de papel passe da investigação para o mercado, para a sociedade, criando produtos inovadores mais baratos, eficientes e amigos do ambiente. Mas mesmo com muito trabalho, há uma barreira pela frente: “A burocracia da Administração Pública, que é diabólica.” E que ainda não a deixou gastar os €3,5 milhões da bolsa avançada do Conselho Europeu de Investigação (ERC) que ganhou, em 2018, para comprar um grande microscópio eletrónico, apesar de não ser dinheiro do Orçamento do Estado. Elvira Fortunato e o marido, Rodrigo Martins, que foi seu professor de Microeletrónica e Materiais Semicondutores, trabalham juntos em áreas complementares na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa (UNL). Ela, além de vice-reitora da UNL, é diretora do Centro de Investigação de Materiais (CENIMAT) e do Instituto de Nanoestruturas, Nanomodelação e Nanofabricação (i3N). O marido dirige o Centro de Excelência em Microeletrónica, Optoeletrónica e Processos (CEMOP). Viveu e estudou sempre em Almada? Sim, nasci em Almada e os meus pais vieram de uma aldeia próxima de Alcanena, Louriceira. O meu pai trabalhava no Cristo-Rei e a minha mãe era doméstica, tomou conta de mim e da minha irmã, nove anos mais nova do que eu. Fiz aqui a escola primária, o ciclo preparatório e o liceu, que terminei em 1981. Nessa altura tinha acabado de se instalar no Monte da Caparica, a Faculdade de Ciências e Tecnologia da UNL. Era só um edifício, hoje é uma pequena cidade, um campus com 8 mil alunos e 500 professores, e os acessos eram péssimos. Eu e os meus colegas apanhávamos a camioneta e chegávamos à faculdade com os sapatos cheios de lama depois de passarmos por várias quintas. Mas vivendo eu em Almada e tendo a universidade por perto, acabei por ficar por aqui. A minha primeira opção foi o curso de Engenharia do Ambiente, mas não consegui entrar e optei por Engenharia Física e dos Materiais. Eram ambas licenciaturas novas, a UNL foi pioneira em várias áreas em Portugal. Entretanto, gostei tanto da área dos materiais que resolvi continuar, porque eventualmente podia ter pedido para mudar de curso.

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