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Irlanda do Norte: "Domingo Sangrento"

Vítimas consideradas inocentes 38 anos depois

As vítimas dos disparos dos soldados britânicos no incidente que ficou conhecido por "Domingo Sangrento" [Bloody Sunday] em Londonderry, na Irlanda do norte, em 1972 foram hoje consideradas inocentes de qualquer provocação por um inquérito oficial.

Comentando hoje o resultado do inquérito, o primeiro ministro britânico, David Cameron, considerou que "não devem existir ambiguidades" sobre o incidente, que qualificou como "injustificado e injustificável".

Falando perante os deputados na Câmara dos Comuns, onde foi apresentar oficialmente o relatório, Cameron pediu "profundas desculpas em nome do governo e do país".

Referindo-se ao facto de os soldados não terem feito um aviso antes de abrir fogo, David Cameron afirmou que estes "perderam o auto-controlo e perderam, ou ignoraram, as ordens e formação".

Em causa estão os acontecimentos de 30 de Janeiro de 1972, quando soldados britânicos dispararam sobre uma manifestação, matando 13 civis e ferindo catorze, um dos quais morreu mais tarde.

Os soldados tinham alegado na altura a necessidade de se defender de pessoas armadas com armas e bombas, o que foi negado por testemunhas e familiares das vítimas.

O relatório que investigou os acontecimentos, elaborado por Lorde Mak Saville, um ex-juiz do tribunal superior [High Court], concluiu que o primeiro tiro partiu dos militares.

Trinta e oito anos depois dos acontecimentos, o relatório vem de encontro ao desejo dos familiares dos mortos "Domingo Sangrento" [Bloody Sunday], que queriam que fosse formalizada a inocência das vítimas.

O documento, de mais de cinco mil páginas compiladas em 10 volumes, vem corrigir uma primeira investigação oficial, concluída em Abril de 1972, dez semanas depois dos acontecimentos, que muitos consideraram um "branqueamento".

Na altura, o relatório do também juiz John Widgery exonerou os militares de responsabilidades, alegando que tinham sido antes alvo de tiros e que as mortes só aconteceram por causa de uma manifestação ilegal.

Para este inquérito foram escutados 922 testemunhos de civis, polícias, militares, políticos e antigos membros do Exército Republicano Irlandês (IRA), o braço militar do partido Sinn Fein, que hoje faz parte do governo da Irlanda do norte.

O relatório, a cargo do Lorde Mark Saville, demorou, ao todo, 12 anos a ser publicado e custou 195 milhões de libras (234 milhões de euros).

O documento foi encomendado pelo primeiro ministro Tony Blair em 1998 ao ex-juiz do tribunal superior [High Court].

Um protesto silencioso de dezenas de pessoas realizou-se hoje em Londonderry reproduzindo o mesmo percurso da marcha pelos direitos humanos que acabou em tragédia em 1972.

Uma das imagens simbólicas daquele dia é a imagem do padre Edward Daly a agitar um lenço de mão ensanguentado enquanto um jovem ferido era transportado para segurança.

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