Wikileaks pode ter influenciado revoltas

foto Amr Abdallah Dalsh/REUTERS
Wikileaks pode ter influenciado revoltas
Agitação em África e Médio Oriente pode ter sido influenciada pelas revelações do site Wikileaks, defende o director do "The Guardian"

As revelações do site Wikileaks permitiram aceder a informação sobre países não democráticos, onde os meios de comunicação são controlados, e podem ter ajudado a germinar as revoltas que se vivem actualmente no norte de África e Médio Oriente.

A opinião é do director do diário britânico "The Guardian", Alan Rusbridger, que quarta-feira participou num debate em Madrid sobre as revelações do Wikileaks e o seu impacto no futuro do jornalismo, onde participaram os seus homólogos do "El Pais", "New York Times", "Le Monde" e "Der Spiegel".

"É muito provável que as revelações tenham tido alguma influência no que está a acontecer. Foi um sinal de que é possível e muito importante poder publicar informação mais além das fronteiras de um Estado", disse Rusbridger.

As revelações, explicou, demonstram também a capacidade da Internet para ultrapassar as restrições que se mantém em muitos dos países não democráticos.

As redes sociais tornaram-se elementos vitais para que os cidadãos da Tunísia, do Egipto e de outros países da região dessem a conhecer as suas vozes e hoje, por exemplo no caso da Líbia, são quase as únicas formas de fazer chegar informação ao exterior.

Georg Mascolo, director do "Der Spiegel", considerou por seu lado que apesar do "mundo não ter mudado" e da diplomacia "não ter entrado em colapso", o Wikileaks "ensinou lições importantes".

Por um lado porque demonstrou a dificuldade em manter segredos e por outro porque todos os 251 mil telegramas diplomáticos norte-americanos permanecem como fonte de informação para o futuro.

Todos os participantes no debate insistiram no cuidado que tiveram no tratamento da informação, especialmente para garantir a segurança de algumas das pessoas mencionadas nos textos.

"Claro que tivemos que limitar o que publicamos. E não causámos danos nenhuns", afirmou Mascolo.

"Fomos muito selectivos no que publicámos", disse Sylvie Kauffman, directora do "Le Monde", destacando o trabalho de dezenas de jornalistas no tratamento dos documentos diplomáticos.

Apesar do cuidado, Kauffman recordou as intensas pressões das autoridades francesas e de alguns leitores para tentar travar as revelações.

Alan Rusbridger, por seu lado, admitiu que as decisões de publicar ou não publicar algum do material contido nos documentos suscitaram debates sobre se a transparência deveria ser "total" ou não.

Georg Mascolo insistiu que apesar do intenso debate em torno às publicações, tanto os políticos como os jornalistas "aprenderam lições importantes" sobre o impacto dos documentos.

"Os políticos e os governos descobriram que exageraram quando declararam o fim da diplomacia e da paz mundial e os jornalistas descobriram qual é a sua tarefa", afirmou.

"Temos que manter segredos? Sabemos segredos governamentais e empresariais que decidimos não publicar? Claro. A tarefa do jornalista é perceber o que se pode publicar e não se pode publicar. Só por ser segredo de um governo não implica que não se pode publicar", afirmou.

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