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Técnica pode estar desenvolvida em dois anos

Cientistas desenvolveram teste sanguíneo para detectar síndrome de Down

Por Nicolau Ferreira

Uma equipa de cientistas desenvolveu um teste sanguíneo em mulheres grávidas que detecta se o feto tem síndrome de Down. Os resultados preliminares foram publicados ontem na revista Nature Medicine, a técnica pode evitar os testes mais invasivos utilizados hoje.
As pessoas com síndrome de Down têm uma esperança média de vida mais baixa As pessoas com síndrome de Down têm uma esperança média de vida mais baixa.
O síndrome de Down acontece quando um bebé tem um cromossoma 21 a mais e passa a ter três cópias desta molécula. É por isso que também se chama de trissomia 21. As pessoas com esta condição têm dificuldades cognitivas, problemas congénitos a nível cardíaco, maior probabilidade de desenvolver cancros e epilepsia, e uma esperança média de vida mais baixa. É uma das doenças cromossómicas mais frequentes.

A forma de se verificar se um feto tem um cromossoma 21 a mais é através de uma amniocentese, a colheita do líquido amniótico que está dentro da placenta. O líquido tem células do feto, o que permite analisar o número de cromossomas e detectar este e outros problemas hereditários. A recolha é feita com uma agulha que penetra a barriga da grávida. Por isso, o método além de ser doloroso pode causar o aborto em uma em cada cem pessoas que o fazem.

Agora, os cientistas conseguiram fazer a mesma coisa a partir da recolha de sangue da mulher. Apesar da circulação sanguínea do feto e da mulher estarem isoladas uma da outra através da placenta, há material genético do feto que passa para o sangue da mãe. Já se tinha tentado utilizar este material para se detectar o síndrome de Down, mas a tarefa era difícil e cara.

A equipa de cientistas do Instituto de Neurologia e Genética do Chipre, autores do artigo, utilizou a metilação do ADN para obter estes resultados. O mais importante componente dos cromossomas é a longa cadeia de ADN onde estão codificados os genes humanos. Ligado a este ADN existem grupos químicos metil que aumentam ou diminuem a actividade dos genes.

O padrão definido pelos grupos metil nas células da mãe é diferente do padrão nas células do feto, o que permite os cientistas encontrarem os cromossomas do feto no meio do sangue da grávida. Nos casos de síndrome de Down, o padrão de metilação do terceiro cromossoma 21 também é distinto.

Desta forma, os cientistas conseguem isolar o cromossoma a mais e identificar os casos de trissomia 21. A equipa teve cem por cento de sucesso. Nos 40 casos que testaram, 14 foram identificados com síndrome de Down e 26 eram normais. O diagnóstico estava correcto.

É necessário fazer testes independentes para implementar a técnica, mas Philippos Patsalis, que liderou o estudo, está confiante. “A vantagem é que se pode introduzir um diagnóstico pré-natal para o síndrome de Down a todas as mulheres grávidas sem haver um risco para o bebé”, disse ao jornal britânico Guardian. “Acredito que em menos de dois anos esta técnica pode ser prática clínica.”

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