SOL
100 peças em 40 anos de Comuna 
assinalados com estreia nesta noite


25 de Abril, 2012por Rita Silva Freire
Depois de quarenta anos de vida, a Comuna – Teatro de Pesquisa continua com o mesmo espírito com que nasceu: pôr em palco peças que nos façam pensar, que nos questionem, que lutem contra os poderes instituídos. E que melhor forma de comemorar um aniversário senão fazendo a festa com teatro?
A Controvérsia de Valladolid, de Jean-Claude Carrière, sobe esta noite ao palco do São Luiz (ficando em cena até 6 de Maio, altura em que transita para o palco da Comuna, até 17 de Junho), numa encenação de João Mota, com Carlos Paulo, Virgílio Castelo e Álvaro Correia nos principais papéis. Recuamos aos Descobrimentos e vemos uma acesa discussão entre Sepúlveda e Frei Bartolomeu de las Casas. São os povos conquistados humanos? Justifica o ouro a escravidão do outro?
São cerca de cem as peças que A Comuna já levou à cena. Nos palcos, estiveram dezenas de actores. Virgílio Castelo é a mais recente ‘aquisição’. É a primeira vez que trabalha com a Comuna. «Foi um convite que me honrou muito», diz. «Achei irrecusável. E depois de ler a peça ainda mais contente fiquei por me associarem, de algum modo, ao 40.º aniversário».
Também Hélia Correia não conseguiu recusar o convite de João Mota para subir ao palco em Édipo-Rei, de Sófocles, em 1988. A peça foi um êxito, esteve muitos meses em cena. Hélia já não aguentava fazer todos os dias a mesma coisa. «A experiência tornou muito mais funda a minha admiração pelo actor e pelo mistério do teatro. Desesperada, passados quinze dias, perguntava-lhes: ‘Vocês não estão fartos disto, todos os dias a mesma u coisa?’ Diziam-me: ‘Não, todos os dias é diferente’. Tudo o que se passa no teatro é enigmático. Há um grande mistério que nunca decifrei. O meu lado de dentro da Comuna deixou-me uma recordação muito bonita».
Fundada por João Mota, Carlos Paulo, Melim Teixeira, Manuela de Freitas e Francisco Pestana no 1.º de Maio de 1972, a Comuna nasceu numa garagem da Praça José Fontana. O nome, votado pelo público da Rádio Renascença, viria a dar-lhes problemas. Eram vistos como comunistas, como drogados. Não se importaram. A vontade de fazer teatro era imensa. Estrearam em Outubro, com Para Onde Is, a partir de Gil Vicente, e Feliciano e as Batatas, de Catherine Dasté. «Os primeiros anos foram excitantes para todos nós: um teatro novo nascia, vivido pelos actores, sem a figura do empresário, sem ordens. Colectivo, convicto, empenhado nas muitas transformações de mentalidades (e educação alternativa) de que necessitávamos», lembra Jorge Silva Melo, que recorda espectáculos como O Muro, A Mãe e Bão. «Diziam apenas isto: para fazer teatro, é preciso dedicação, alma e actores (com actores podemos fazer tudo). Vivíamos por ali».

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