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Investigadora quer revolucionar rastreio do cancro
E se fosse possível saber se poderá vir a ter
cancro através de um simples teste ao sangue, saliva ou urina? Há um
projeto português que recebeu uma bolsa de investigação de um milhão
euros para que esta possibilidade seja real dentro de pouco tempo.
É o que espera Goreti Sales, investigadora do Biomark Sensor
Research, unidade de investigação do Instituto Superior de Engenharia do
Porto. A sua ideia foi distinguida entre quatro mil projetos de todo o
mundo pelo European Research Council com uma bolsa de um milhão de euros
para cinco anos de investigação.
O resultado final do projeto 3P´s pretende ser “um dispositivo de
diagnóstico muito semelhante a todos os que se veem de diabetes e da
gravidez mas mais simples e operável em qualquer lugar”, explica ao SAPO
Notícias Goreti Sales.
Mas até lá a equipa liderada pela investigadora tem um percurso de
cinco anos de trabalho para chegar a este resultado que pode
revolucionar o “diagnóstico precoce” dos três tipos de cancro com mais
incidência em Portugal e na Europa: cancro da mama, cancro do colo retal
e cancro do útero.
Saber que a doença vem a caminho
Goreti Sales tem um percurso de longos anos na investigação em
materiais sensores, ou seja, “materiais que sejam capazes de reconhecer
um composto específico”. “É algo muito importante do ponto de vista
analítico, ser capaz de ter um material que consegue detetar aquilo que
eu quero e esquecer-se de tudo o resto”, explica a investigadora,
sublinhando que esta interface pode ser aplicada em várias doenças.
O papel deste dispositivo será reconhecer sinais do cancro do nosso
organismo, mas sem que ainda a doença esteja instalada. “Quando temos um
problema no organismo, temos sempre alterações que decorrem desta
mudança do funcionamento normal”, refere a investigadora.
“Estes compostos que normalmente aparecem antes do tempo são chamados
biomarcadores, porque marcam um fenómeno biológico”, diz. O objetivo do
projeto é “tentar identificar estes compostos que estão no sangue, na
urina ou na saliva antes que eles comecem a representar a instalação da
doença per se”, resume Goreti Sales.
A bolsa de investigação de um milhão de euros para cinco anos vai permitir contratar quatro investigadores, que vão trabalhar exclusivamente no projeto. Vai permitir ainda comprar equipamentos e materiais associados ao projeto para que o dispositivo possa ser construído de forma eficaz.
Ao contrário de um teste de gravidez, este dispositivo não será
indicado para ser usado em casa, uma vez que os resultados do teste
deverão ser analisados por um alguém que seja “capaz de lidar com a
informação que ali está, entendê-la, compreendê-la e gerir bem o
resultado que encontra no dispositivo”, realça.
O facto de não chegar à casa das pessoas não será um impedimento para
que o dispositivo “seja acessível a todos”. “É uma coisa que deverá ser
tão barata e tão disponível à população que à partida poder-se-ia
entender que seria mesmo análogo a um dispositivo para detetar a
gravidez”, conclui a investigadora.
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