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Pulmão artificial salva vidas no limite

LEONOR PAIVA WATSON
foto Pedro Correia/JN
Pulmão artificial salva vidas no limite
Hospital S. João, no Porto, é a única unidade hospitalar em toda a Península Ibérica a desenvolver esta técnica

O Hospital de S. João, no Porto, é a primeira unidade hospitalar da Península Ibérica a desenvolver a técnica do pulmão artificial, que oxigena o sangue numa membrana exterior ao corpo. Um dos primeiros pacientes tratados assim já teve alta.

O suporte do pulmão externo (ECMO) - que visa tratar falências pulmonares agudas mas reversíveis, ainda que o reversível possa significar estar à espera de um transplante - consiste em fazer sair o sangue (através da veia femural) para o exterior do corpo onde está uma membrana que o vai oxigenar. Após oxigenado, o sangue regressa ao corpo através da veia jugular.

Basicamente, este é um passo em frente no que diz respeito a equipamentos e técnicas que aguentam o doente e os seus órgãos vitais (que já não estão capazes de desenvolver as suas funções autonomamente) o tempo suficiente para a medicação fazer o devido efeito.

"Podemos dizer que 99% dos pacientes que foram tratados assim, teriam morrido se não fosse o ECMO", adiantou José Artur Paiva, director dos Cuidados Intensivos do Hospital de S. João. "Com esta técnica, podemos aguentar um doente até três meses", reiterou Roberto Roncon, o médico que foi especializar-se nesta área na Alemanha.

Materiais biocompatíveis

Estas membranas, com a tarefa de ajudar um órgão vital em graves dificuldades, já existem há muito tempo, sendo que se confinavam ao bloco operatório. Vista a sua importância, começou a aperfeiçoar-se esta técnica por forma a que ela saísse do bloco operatório e pudesse estar nos cuidados intensivos.

Hoje, com materiais biocompatíveis, que em nada prejudicam o corpo humano, cada membrana pode aguentar um doente durante dias ou meses, até a medicação fazer efeito. "Neste momento, o Hospital de S. João tem capacidade para assistir desta foram cinco a seis doentes ao mesmo tempo", garantiu José Artur Paiva.

E se, neste momento, o S. João trata as infecções graves generalizadas, como uma pneumonia, a ideia é, no futuro, levar o ECMO a outras áreas. O ECMO pode ajudar a tratar, por exemplo, a falência cardíaca; pode, ainda, aguentar um doente enquanto se decide a terapêutica a seguir.

"Muitas vezes temos uma hora para decidir o que fazer com o doente. Uma hora é muito pouco. Com o ECMO podemos ganhar tempo para tratar e para decidir como tratar", explicou o especialista Roberto Roncon.

Do mesmo modo, o ECMO pode ser uma ponte para o transplante. "Um doente que precisa de um transplante tem que curar primeiro a infecção. Quando recebe o outro órgão tem que estar bem. O ECMO ajuda a aguentar o doente enquanto a medicação faz efeito. Dá-lhe tempo de vida enquanto cura a doença que tem e espera pelo órgão novo", acrescentou.

Mais recolha de órgãos

No limite, esta técnica vai até permitir a recolha de mais órgãos para transplantes. "Nesta altura só é possível realizar colheita de órgãos em morte cerebral. Com o ECMO passa a ser tecnicamente possível manter os órgãos viáveis para colheita após morte por paragem cardíaca. O ECMO permite continuar a irrigação de fígado e rins apesar da morte por paragem do coração", concluiu José Artur Paiva.

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