"No dia em que se celebra a MULHER, aqui fica a minha homenagem, o meu reconhecimento e o meu agradecimento a todas as MULHERES simbolizadas na minha mãe"

DN Opinião

Mulheres e teologia

por ANSELMO BORGES

Celebra-se, depois de amanhã, 8 de Março, o Dia Internacional da Mulher, lembrando as suas lutas de emancipação. As religiões, na sua ambiguidade, foram e podem ser factores de libertação. De facto, a sua influência neste domínio foi e é sobretudo negativa e opressora. Que impressão causa, por exemplo, pensar na possibilidade de uma mulher à frente da Igreja como Papa?

Mas há iniciativas, inimagináveis há poucos anos. Assim, no passado dia 26 de Fevereiro, a partir de uma colaboração da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, no quadro do Mestrado e Doutoramento em Estudos Feministas, integrando também um seminário sobre "Mulheres e Religiões", do Instituto Universitário Justiça e Paz e do Centro de Estudos Sociais, teve lugar na Faculdade de Letras um Colóquio subordinado ao tema "Mulheres e Teologia", com cerca de 170 participantes.

Pela mão das mulheres, a teologia "regressou" à Universidade de Coimbra, na Faculdade de Letras, que substituiu, vai para um século, a Faculdade de Teologia. Como sublinhou o seu director, Carlos André, a Faculdade de Letras, que deveria antes chamar-se Faculdade de Humanidades, pois pergunta pelo Humanum, na sua raiz, nas suas múltiplas dimensões, no seu sentido, não pode ignorar a reflexão sobre o Divino.

Intervindo sobre "Teologia e Feminismo", Fernanda Henriques, da Universidade de Évora, constatando que Deus se tornou um ídolo masculino patriarcal - se Deus é masculino, o masculino é Deus e, então, como é que as mulheres se pensam quando se dirigem a Deus figurado no masculino -, afirmou que as teologias feministas devem ser um braço da teologia da libertação, fundamentais para a renovação da Igreja e decisivas para equilibrar as representações do homem e da mulher no seu valor na sociedade.

A teóloga Maria Carlos Ramos, falando sobre "As mulheres no Antigo Testamento", apontou as dificuldades da interpretação dos textos. O trabalho das mulheres é acrescido, pois, para lá de uma nova leitura, têm que "desconstruir e denunciar uma tradição interpretativa que, na maior parte dos casos, ou as esquece ou as renega para segundo plano."

A teóloga Julieta Dias, ao tratar de "As mulheres no Novo Testamento", mostrou o seu lugar relevante não só no seguimento de Jesus mas também na edificação da primeiras comunidades cristãs. A Samaritana percebeu que Jesus era o Messias. Quem pode negar a presença de mulheres na Última Ceia? Não foi uma mulher, Maria Madalena, a primeira a "ver" Jesus ressuscitado, tornando-se assim a apóstola dos apóstolos?

Laura Santos, da Universidade do Minho, centrou-se, na sua comunicação sobre "Teologia e Sofrimento", no mito de Adão e Eva. Jesus não se lhe referiu. A sua importância veio pelos escritos de São Paulo e através da doutrina do pecado original. Transformou-se "uma narrativa mítico-simbólica num facto histórico, com todas as consequências negativas daí advindas, sobretudo para as mulheres", havendo mesmo quem ponha em causa a possibilidade de este mito "ser hemeneuticamente corrigido".

"Teologia e Ética", no seu desafio mútuo, foi a problemática analisada por Teresa Toldy, da Universidade Fernando Pessoa. Pergunta essencial: Que utilidade tem a teologia para uma vida melhor e a felicidade humana, objectivo também da ética? Esta questão tem um recorte específico, quando relacionada com as realidades e problemáticas das mulheres, tanto no domínio ético como no teológico.

"Dizer o Indizível no feminino" foi o tema de Isabel Allegro de Magalhães, da Universidade Nova de Lisboa. No quadro da obsessão masculina de a tudo dar nome, a quase totalidade das teologias abraçou o racionalismo, esquecendo que Deus é o Absoluto Indizível. É tarefa das teologias feministas contribuir para a aproximação da teologia negativa e dos grandes místicos de todas as religiões. "O que aí encontramos é algo afim a uma teologia contemplativa ou a expressão de uma religiosidade nova, decorrente da consciência de uma total inacessibilidade do Mistério."

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