PÚBLICO

Ainda a alguns anos de chegar ao mercado

Equipa britânica estuda vacina contra todas as estirpes da gripe

Por Ana Machado

A necessidade de se adaptar todos os anos a vacina da gripe às novas estirpes do vírus, que ocorrem Inverno após Inverno, pode ter os dias contados. Uma equipa do Instituto Jenner, da Universidade de Oxford, está a desenvolver uma nova vacina capaz de combater todas as estirpes sem ter de ser alterada. Os primeiros testes em pessoas tiveram bons resultados.
O jornal britânico Guardian conta que a equipa liderada por Sarah Gilbert escolheu uma nova abordagem para o desenvolvimento desta nova vacina, que usa proteínas dentro do vírus da gripe que são comuns a todas as estirpes, ao contrário do que acontecia com as vacinas actuais que usavam proteínas à superfície do vírus, mais susceptíveis de se alterarem.

“O problema com a gripe é que temos várias estirpes e elas sofrem alterações constantes”, disse Adrian Hill, director do Jenner Institute de Oxford, ao Guardian . A nova vacina, adianta o investigador, podia poupar tempo, tornando mais eficaz o combate à doença, e poupar dinheiro, evitando o desenvolvimento de vacinas novas todos os anos.

Os primeiros ensaios clínicos com a vacina já ocorreram e, conta a equipa, dos 11 voluntários, saudáveis, testados, com a estirpe H3N2 de tipo A – isolada em 2005 – mostraram que a vacina actuou conforme previsto. Os voluntários estavam protegidos e com o sistema imunitário mais activo do que o grupo de controlo. Os resultados ainda não foram publicados numa publicação científica mas já foram submetidos para publicação.

Graça Freitas, subdirectora-geral de Saúde e epidemiologista conta ao PÚBLICO que esta tentativa de se fazer uma vacina, “todo-o-terreno” já não é nova, com várias equipas a tentar chegar lá. Mas que a dificuldade reside em encontrar uma proteína dentro do próprio vírus que não sofra mutações e que estimule o nosso sistema imunitário: “Era difícil encontrar uma proteína imunogénica dentro do vírus”, sendo que esta investigação de Oxford usa mecanismos de estimulação da nossa imunidade diferente das actuais: “As vacinas que temos estimulam a produção de anti-corpos e esta, em específico, activa células específicas do nosso sistema imunitário, as células-T, é um mecanismo diferente”.

Números redondos, conta a subdirectora-geral de saúde, os custos com novas vacinas da gripe, entre o que os utentes pagam e o que o estado comparticipa, ronda os 14 milhões de euros (o custo em geral da vacina é de oito euros e são produzidas aproximadamente 1,8 milhões de doses por ano). Mas para Graça Freitas, mais do que o que se poderia poupar com vacinas anuais, o que aqui conta é a eficácia de uma toma única em termos de saúde pública: “Seria óptimo pela adesão que teria pois as pessoas não estão disponíveis para apanhar uma vacina todos os anos e não se vacinam”.

Para a equipa britânica o ideal seria conseguir uma vacina da gripe que, tal como a vacina do tétano, é apenas reforçada de dez em dez anos.

“Se usarmos sempre a mesma vacina, seria tão fácil para as pessoas vacinarem-se contra a gripe como se vacinarem contra o tétano, Seria uma vacinação de rotina e não se colocariam problemas de disponibilidade de doses, por exemplo”, disse a coordenadora da investigação Sarah Gilbert.

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