PÚBLICO

Texto refere "crise profunda" na Igreja Católica

Documento contra celibato já foi assinado por 200 teólogos A contestação ao celibato ocorre poucos meses antes da visita de Bento XVI à Alemanha, em Setembro

Por António Marujo

Vai já em metade dos cerca de 400 professores de teologia de língua alemã o número de subscritores do manifesto Kirche 2011 Ein notwendiger Aufbruch (“Igreja 2011: uma renovação indispensável”), anunciado sexta-feira passada na Alemanha e que pede, entre outras coisas, o fim do celibato obrigatório, a ordenação de mulheres e a aceitação do casamento de pessoas do mesmo sexo.
A contestação ao celibato ocorre poucos meses antes da visita de Bento XVI à Alemanha, em Setembro (Max Rossi/Reuters)
De acordo com o site da revista francesa Témoignage Chrétien, o manifesto vai, no entanto, mais longe: fala do decréscimo do número de padres, da liberdade de consciência na Igreja, dos problemas no culto, da crise da vida das paróquias, das “unidades administrativas” com áreas geográficas cada vez maiores, da importância de estruturas e mecanismos de participação na vida da Igreja.

No início, o texto fala da “crise profunda” que atravessa a Igreja Católica e que, na opinião dos teólogos, não está ligada, em primeiro lugar, ao escândalo dos abusos sexuais que atingiu países como a Alemanha, a Irlanda ou os Estados Unidos. E acrescenta: “Enquanto professores de teologia, não temos o direito de nos calar mais tempo. Temos a responsabilidade de dar o nosso contributo para um verdadeiro recomeço: 2011 deve ser o ano da renovação para a Igreja.”

Os teólogos (alemães, austríacos e suíços) recordam precisamente o que se passou no ano passado, com a divulgação dos casos de abuso sexual num colégio católico de Berlim. “O ano que se seguiu lançou a Igreja da Alemanha numa crise sem precedentes. A imagem hoje dada a ver é ambivalente: muito tem sido feito para levar justiça às vítimas, reavaliar o mal que foi feito e voltar às causas que levaram ao silêncio, aos abusos e ao discurso duplo nas nossas próprias fileiras.”

O caso levou muitos cristãos a pôr a questão da “necessidade de reformas fundamentais”, diz o documento. “Este convite para um diálogo aberto sobre as estruturas de poder e de comunicação, sobre a forma dos ministérios e a participação dos fiéis na responsabilidade eclesial, assim como sobre a moral e a sexualidade, gerou expectativas, mas também uma preocupação: será que, numa espécie de esperar para ver e para minimizar a crise, se vai deixar passar aquela que é talvez a última oportunidade para romper com a paralisia e a resignação?”

A divulgação do manifesto ocorre num momento em que os alemães preparam uma nova visita do Papa Bento XVI ao seu país natal, em Setembro. Os teólogos não estão alheios ao acontecimento: “O tumulto que pode gerar um diálogo aberto, sem tabus, pode preocupar alguns, especialmente a escassos meses de uma visita papal. Mas a alternativa, o silêncio sepulcral que resultaria de uma aniquilação de todas as esperanças, não é aceitável.”

Os signatários – que passaram dos iniciais 144 aos 190 de ontem – dizem que muitos cristãos “recusam seguir a hierarquia da Igreja ou entendem viver a sua fé na esfera privada a fim de a proteger da instituição”. E dizem que a Igreja deve “compreender estes sinais” e acabar ela mesma com “estruturas anquilosadas”.

Foi na sequência da revelação de casos de abusos sexuais na Áustria que surgiu, há década e meia, a Petição do Povo de Deus, que deu origem ao movimento internacional Nós Somos Igreja. Mas já antes, em 1989, 220 teólogos alemães tinham assinado a Declaração de Colónia, em protesto contra o que consideravam a liderança autoritária do Papa João Paulo II. O próprio Bento XVI assinou, em 1970, enquanto teólogo, um documento no qual também se pedia que o celibato fosse repensado.

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