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Fígado n.º 900 salva doente da morte

Helena Norte
foto Adelino Meireles/Global Imagens
Fígado n.º 900 salva doente da morte
Olinda Rodrigues recebeu o transplante hepático

O Hospital de Santo António (Porto) já realizou 900 transplantes de fígado, cerca de um terço a doentes com paramiloidose. Nestes casos, é possível fazer transplantes em dominó: o órgão retirado é transplantado noutro paciente, salvando-se duas vidas.

O 900.º transplante de fígado aconteceu no fim-de-semana passado. Maria Olinda Gonçalves Rodrigues, 62 anos, preparava-se para um sábado em família, em Espinho, quando recebeu uma chamada do Hospital de Santo António (HSA). O órgão que aguardava, há cerca de três meses, estava disponível e a cirurgia de transplantação iria realizar-se dentro de poucas horas.

Quando lhe foi diagnosticada uma cirrose biliar primária, uma condição auto-imune que apenas se manifestou em Abril passado com uma grave hemorragia que a obrigou a 28 dias de internamento no Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia, e lhe disseram que precisava de um transplante hepático, só teve um pensamento. "Julguei que morria", recorda Olinda Rodrigues. A verdade é que, sem um fígado novo, a próxima hemorragia tinha 50% de probabilidade de ser fatal, explica Jorge Daniel, coordenador do Programa de Transplantes do Fígado do HSA e cirurgião que a operou.

Olinda Rodrigues esperou que a sua vez chegasse sem desanimar. Continuou a fazer a sua vida normal e activa, que tenciona retomar logo que tenha alta hospitalar. Quatro dias depois da delicada cirurgia, já dispensava a cama e contava a sua história. Em média, os doentes ficam dois ou três meses em lista de espera activa por um fígado. Na região Norte, há cerca de 30 pessoas que aguardam um transplante hepático.

A maioria dos candidatos sofre de paramiloidose (vulgarmente conhecida por "doença dos pezinhos") ou de cirrose alcoólica ou vírica (a hepatite C é mais frequente). O transplante hepático é o tratamento de primeira linha para a paramiloidose - o HSA é o hospital que mais transplantes faz a estes doentes - e tem a particularidade de permitir o que se designa por transplante sequencial ou em dominó. Ou seja, duas colheitas e dois transplantes, quase em simultâneo, aproveitando-se o órgão do portador de paramiloidose para outro paciente.

Nos últimos dois anos, Portugal tornou-se o país do Mundo que mais transplantes hepáticos faz em função do número de habitantes (28,5 por milhão), segundo dados da Organização Portuguesa de Transplantação.

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