PÚBLICO

L'Oréal Portugal

Premiados projectos sobre cancro da mama, esclerose múltipla e colapso pulmonar

Por Ana Gerschenfeld

Uma delas tenciona descobrir anticorpos que permitam impedir a formação de metástases nos cancros da mama; uma outra propõe-se travar com pequenas moléculas a progressão da esclerose múltipla; a terceira quer desenvolver novos medicamentos contra uma doença pouco estudada, o pneumotórax espontâneo primário.
Estes três projectos, que estão a ser desenvolvidos por três jovens cientistas portuguesas – Ana Barbas, 35 anos, do Instituto de Biologia Experimental e Tecnológica (IBET) de Lisboa; Adelaide Fernandes, 33 anos, da Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa; e Inês Sousa, 29 anos, do Instituto de Medicina Molecular da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa e do Instituto Gulbenkian de Ciência de Oeiras –, vão receber esta tarde as Medalhas de Honra da L’Oréal Portugal para as Mulheres na Ciência 2011. Foram seleccionados entre cerca de 80 candidaturas.

O cancro da mama é a doença que mais mulheres afecta e mata em Portugal – e estima-se que 90 por cento dessas mortes (não só em Portugal) são devidas ao facto de o cancro se espalhar pelo corpo, formando metástases. Uma maneira de travar esta forma particularmente letal da doença passa por “esfomear” o tumor contrariando a sua capacidade de formar novos vasos sanguíneos – processo dito de angiogénese –, impedindo assim o seu crescimento e disseminação. Duas proteínas desempenham um papel fundamental na angiogénese: Notch1, um receptor presente à superfície das células; e Jagged2, que, ao encaixar-se no receptor, activa-o provocando a libertação pela célula de proteínas que promovem o crescimento vascular – e o crescimento do tumor.

Identificar, seleccionar, testar

A ideia de Ana Barbas é tentar impedir que a Jagged2 e a Notch1 comuniquem entre si. Como? Fabricando anticorpos que detectem e ataquem especificamente a Jagged2 antes de ela se ligar a Notch1. A primeira fase do trabalho, explica a cientista, consiste “na selecção do anticorpo com maior afinidade” pela proteína Jagged2. “A selecção [inicial] dos três a cinco melhores candidatos deve demorar dois a três meses”. Quanto a saber qual será o melhor de todos, só daqui a ano e meio – e a seguir, ainda vai ser preciso confirmar a sua acção, primeiro em culturas celulares e mais tarde em ratinhos. Ana Barbas “tem esperança” no sucesso do projecto.

Por seu lado, Adelaide Fernandes interessa-se pela esclerose múltipla, doença auto-imune que ataca a bainha dos nervos. O principal ingrediente desse invólucro, sem o qual os impulsos nervosos não conseguem viajar pelas fibras nervosas, é uma proteína chamada mielina. A doença manifesta-se por crises (acompanhadas de paralisia parcial, perturbações da visão e do equilíbrio) que, à medida que se repetem, levam a uma crescente desmielinização dos nervos e tornam a doença cada vez mais incapacitante.

Adelaide Fernandes tem razões para pensar que uma proteína, a S100B, que está presente em níveis elevados na doença, poderá provocar um atraso na recuperação do sistema nervoso entre duas crises. A sua ideia é confirmar primeiro a acção da S100B e identificar a seguir pequenas moléculas biológicas, chamadas aptámeros, capazes de interferir especificamente com essa proteína, mantendo os seus níveis baixos e contribuindo assim para uma melhor remielinização dos nervos entre as crises. Pensa conseguir desenvolver moléculas promissoras em dois a três anos. Quanto à aplicação clínica dos resultados, “nunca antes de cinco a dez anos”, diz Adelaide Fernandes.

Trabalho pioneiro

Inês Sousa estuda uma doença muito menos célebre do que as duas anteriores, num projecto “pioneiro a nivel mundial e o primeiro a envolver a população portuguesa”, segundo o comunicado do prémio: a formação de bolsas de ar que provocam o colapso de um ou de ambos os pulmões, sem qualquer causa médica aparente. “O pneumotórax espontâneo primário chamou-me a atenção por ser uma doença pulmonar rara e muito pouco estudada”, explica. As vítimas costumam ser homens com 18 a 35 anos, “altos, magros, muitas vezes fumadores e desportistas”.

O objectivo do seu projecto é identificar a combinação de genes que poderá estar envolvida na susceptibilidade a esta doença e no risco de recidiva. Actualmente, a doença “não tem tratamento definitivo [o ar tem de ser aspirado de cada vez], mas a taxa de recorrência é muito elevada”, salienta a cientista. O desenvolvimento de eventuais terapias com base nos resultados do projecto é também, neste caso, remetido para daqui a cinco a dez anos. Mas já numa primeira fase – talvez para o ano –, Inês Sousa espera saber o suficiente sobre os factores genéticos de risco para ser possível “implementar medidas preventivas junto dos indivíduos em risco de recorrência, que poderão ser vigiados pelas equipas médicas e adoptar hábitos que evitem um reaparecimento (deixar de fumar, não fazer mergulho, entre outros)”.

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