Primeiro filme de Manoel de Oliveira foi há 80 anos

SOL
O mais veterano realizador do mundo, Manoel de Oliveira, estreou há 80 anos, em 19 de Setembro 1931, o seu primeiro filme, 'Douro, Faina Fluvial', em Lisboa, e foi um início de carreira saudado com uma pateada.

A plateia escolhida para estrear o filme de 18 minutos foi a do V Congresso Internacional de Crítica, em Lisboa. Desde 1929 que Oliveira vinha a realizar o filme, que retratava a vida da zona ribeirinha da cidade, mas foi interceptado pelo realizador Lopes Ribeiro, que convenceu o portuense de 21 anos a acabar o filme a tempo daquele evento. E a maior parte da plateia pateou, incomodada por o filme mostrar a estrangeiros gente descalça e miserável. Mas os estrangeiros adoraram. O famoso dramaturgo Luigi Pirandello e um crítico de cinema terão perguntado se em Portugal se costumava aplaudir os bons filmes com os pés…

«Era brilhante a trepidante montagem e a fotografia do documentário influenciada pelos modernistas soviéticos e alemães, e inspirada assumidamente por Oliveira no filme 'Berlim, Sinfonia de uma Cidade' de Walter Ruttmann. Eles não queriam simplesmente transportar para o cinema as imagens da cidade, acreditavam que o cinema era a arte que melhor expressava o frenesim da vida urbana, mais do que o teatro a musica ou literatura», afirma Sérgio Costa Andrade, jornalista do Público e autor do livro 'O Porto na História do Cinema'. O filme seria exibido numa versão muda, já que só mais tarde Luís de Freitas Branco viria a compor a banda sonora.

Mas foi uma obra de um amador, montada em condições artesanais. «Em 1929, a Invicta Filme estava falida. O estúdio era alugado, por exemplo pelo Repórter X que aí filmou, mas os anos de ouro tinham sido entre 1918 e o meio da década de 20. Por isso não há produção» afirma Sérgio Costa Andrade. Manoel de Oliveira convence o seu amigo António Mendes, bancário e fotógrafo amador, a auxiliá-lo na recolha de imagens da vida do Douro. Filmam com uma câmara Kinamo que lhe tinha sido oferecida pelo pai e, segundo lembra Oliveira no seu filme 'Porto da Minha Infância', a montagem da película foi feita no bilhar de sua casa.

«Ele ocupava-se das empresas do pai, era atleta, só entraria em corridas de automóveis nos anos trinta, mas já tinha brevet de aviador e tinha aquele interesse pelo cinema porque era cinéfilo», recorda Sérgio Costa Andrade. O Águia D’ Ouro, o Olympia e o Passos Manuel serviam para matar a fome de fitas.

A carreira de Oliveira só seria retomada dez anos depois, em 1942, com o clássico 'Aniki Bobó', o que leva Sérgio Costa Andrade a afirmar que «ele não tinha intenção imediata de seguir a carreira de realizador, embora prosseguisse escrevendo argumentos». E seria com o realizador Lopes Ribeiro, que o impulsionara a exibir o primeiro filme, agora no papel de produtor, que Oliveira realizaria aquele filme que voltaria a ter o Douro como um seus cenários.

Lusa/SOL

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