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Família

Filhos de lésbicas são melhores na escola e menos agressivos

por Marta F. Reis
Estudo inédito acompanhou 78 crianças desde a barriga da mãe até aos17 anos. Os resultados surpreenderam
Que a adolescência é difícil é um facto. Foi com esta premissa, associada à ideia de que o desenvolvimento é tão problemático para as crianças criadas por pais homossexuais como para as que vivem com casais heterossexuais, que Nanette Gartrell, investigadora da Universidade da Califórnia, embarcou há 24 anos num estudo inédito sobre filhos de mães lésbicas. As conclusões foram publicadas esta semana na revista "Pediatrics", da Academia Americana de Pediatria, e são uma surpresa para os investigadores. Estes adolescentes, hoje jovens adultos, não só não apresentaram grandes diferenças ao longo do seu desenvolvimento em relação aos filhos de famílias tradicionais, como os superaram pela positiva em indicadores psicológicos, sociais e académicos.

A equipa dirigida por Gartrell e Henny Bos, da Universidade de Amesterdão, conseguiu a participação de 154 lésbicas e futuras mães, e submeteu-as a questionários de avaliação psicológica sobre o crescimento dos seus filhos. Aos 10 e aos 17 anos, os jovens também foram convidados a participar, e responderam de viva voz às questões. Hoje permanecem no estudo 77 famílias, com 78 filhos (dois gémeos) - e as suas respostas foram comparadas com uma avaliação semelhante de 93 crianças/jovens da mesma geração, mas filhas de pais tradicionais.

Foi usado o método "Child Behavior Checklist" (CBCL), um questionário que avalia competências e problemas comportamentais e emotivos das crianças. "Quando comparámos os adolescentes com o padrão, descobrimos que os filhos de mães lésbicas estão a sair-se melhor", disse Gartrell, uma forma simples de resumir uma tabela que confronta resultados para parâmetros como escola, ansiedade ou problemas sociais. Em 14 itens de análise, os filhos de lésbicas vencem em 12, sendo, por exemplo, menos agressivos e desobedientes. Quanto ao estigma de terem pais do mesmo sexo - sentido por 41% -, concluiu-se que o pouco efeito que tinha no desenvolvimento psicológico e social das crianças aos 10 anos dissipa-se pelos 17 anos.

Para explicar os resultados, há para já poucos argumentos. A ideia de que estas mães terão antecipado o estigma social com uma maternidade mais empenhada é uma das leituras avançadas. "As nossas conclusões demonstram que não há qualquer justificação para restringir o acesso a tecnologias reprodutivas ou custódia parental com base na orientação sexual dos pais", sustentam ainda os investigadores.

Há, contudo, algumas lacunas: a amostra não é aleatória - em 1986 a homossexualidade era menos assumida, pelo que o recrutamento das participantes foi muito localizado - e não estão representados pais homossexuais. Nada que invalide os resultados do trabalho, defendem, mas que obriga a mais estudos. "Apesar de três décadas de investigação a demonstrarem que o desenvolvimento das crianças não está relacionado com a orientação sexual dos pais, a legitimidade da paternidade biológica ou por adopção continua sob escrutínio", escrevem no artigo. E para Gartnell, não restam dúvidas: "estes pais são um sucesso", disse à imprensa.
Em 2005, 270 mil crianças norte-americanas viviam com famílias homossexuais

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