i

Ciência converte pele em sangue. Ensaios clínicos arrancam em 2012

por Marta F. Reis

Mick Bhatia, responsável pela descoberta, diz que nova técnica fará com que promessa das células estaminais chegue mais depressa aos doentesVídeo

A "Nature", que ontem publicou o artigo, chamou-lhe "alquimia celular". Os jornais canadianos dispararam a notícia. Abre-se uma nova era para as doenças do sangue? O grupo de Mick Bhatia e os especialistas que ontem estavam a postos para comentar a novidade científica parecem acreditar que sim. O investigador sediado no Instituto para a Investigação em Células Estaminais e Cancro da Universidade McMaster, em Toronto, descobriu que é possível converter directamente pele em sangue.

A nova técnica ultrapassa a actual investigação com células estaminais pluripotentes - que pressupõe que células adultas sejam convertidas em células estaminais embrionárias e só nesse estado se tornem fonte celular para diferentes tecidos -, técnica descoberta em 2006 como solução para a dificuldade em utilizar células embrionárias de origem (quer por questões éticas, quer pela sua escassez). No início do ano já tinha sido publicada a conversão directa de células da pele de ratinhos em neurónios e músculo do coração, mas agora chega a confirmação de que o processo funciona em seres humanos.

Promessa clínica Os ensaios clínicos deverão arrancar em 2012. Distinguindo-se das outras linhas de investigação com células estaminais - recorde-se que o primeiro ensaio clínico com células embrionárias de excedentes de embriões usados em fertilização in vitro só arrancou em Outubro nos EUA -, o investigador acredita que este método pode entrar mais depressa na rotina clínica. Tal como nas células pluripotentes, o risco de rejeição diminui pelo facto de o sangue ter como origem as células do próprio doente. Mas há outras vantagens: só são produzidas células adultas, que podem logo ser usadas para transfusão. A ideia, para já, é serem utilizadas no tratamento de doentes com leucemia ou anemia.

Segundo o artigo, não há idade-limite para a conversão. Perceber se estas células podem ser congeladas ou se, em seres humanos, também é possível a conversão directa de células da pele (fibroblastos) noutros tipos de células são alguns dos desafios enumerados por Bathia.

Num passo importante também para a ciência canadiana, Michael Rudnicki, director da Rede de Células Estaminais, destacou o facto de estas células, promessa da medicina regenerativa, terem sido identificadas pela primeira vez na Universidade de Toronto, há 50 anos.

Comentários

Mensagens populares deste blogue