Para avivar a memória"48" mostra imagens dos arquivos da PIDE e narra histórias de ex-prisioneiros políticos do Estado Novo |
AGOSTINHO SANTOS É a autora do filme "48", que, até agora, já conquistou três galardões, o mais recente dos quais o prémio para o "Melhor Documentário do Mundo", na 14ª edição do Festival Internacional do Cinema Documental de Jihlava, na República Checa. Susana de Sousa Dias, de 48 anos, natural de Lisboa, foi a Jihlava receber das mãos do presidente do júri o troféu que certifica a "alta qualidade" atribuída a este seu trabalho cinematográfico. Não escondendo, naturalmente, a felicidade que é a obra ser reconhecida entre 274 filmes de 52 países, a realizadora refere que a película "48" já tinha sido distinguida nos festivais de Cinema du Réel, em Paris, e no Documentário e Cinema de Animação de Leipzig, na Alemanha. O filme, de 93 minutos, poderá considerar-se, segundo a cineasta, "uma viagem ao período do Estado Novo que imperou 48 anos", tendo como objectivo prioritário "avivar a memória de muitos, numa altura em que paira no ar uma espécie de branqueamento da figura de Salazar". Com imagens recolhidas dos arquivos da PIDE, o filme inclui testemunhos de ex-prisioneiros políticos, entre os quais o ex-dirigente comunista Dias Lourenço e dois destacados activistas moçambicanos. A privação do sono, choques eléctricos, gases asfixiantes e os sucessivos interrogatórios são relembrados através destes testemunhos, que, diz Susana de Sousa Dias, "poderão ajudar a construir a história de 48 anos do regime salazarista". A realizadora, que tem acompanhado as exibições do filme em vários países, como Brasil, Argentina e México, e por toda a Europa, garante ter ficado surpreendida com as reacções do público estrangeiro. "As pessoas vêm ter comigo, algumas até chocadas porque desconheciam os pormenores da brutalidade exercida pelo regime ditatorial". Nesse sentido, explica, "o facto de o filme ser mostrado em todo o Mundo é positivo, porque dá uma visão específica sobre o regime de então". |
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