PÚBLICO

Objectivo é eliminar todas as células infectadas pelo HIV

Projecto português que visa curar sida vai ser financiado pela Fundação Gates

Por Ana Gerschenfeld

Com cem mil dólares no primeiro ano e, se correr bem, talvez mais um milhão para chegar à aplicação clínica, uma equipa de cientistas portugueses espera conseguir vencer de vez o vírus da sida.
João Gonçalves, 44 anos, investigador do Instituto de Medicina Molecular (IMM) da Universidade de Lisboa, não escondia o seu entusiasmo quando, esta manhã, falou ao telefone com o PÚBLICO. Sabia que, ao fim da tarde, no âmbito dos seus Grand Challenges Explorations, a Fundação Bill e Melinda Gates anunciaria oficialmente que o seu projecto tinha sido um dos 88 escolhidos entre 2500 vindos do mundo inteiro para receber financiamento.

O projecto insere-se na categoria de concepção de “novas abordagens para curar a infecção pelo HIV”, uma das seis definidas por aquela prestigiada entidade norte-americana para esta ronda de bolsas (a sexta desde que a Fundação lançou a iniciativa).

Pode parecer muito arrojado falar em “cura” quando se fala de sida, mas é exactamente essa a meta da equipa de João Gonçalves: “encontrar as células infectadas pelo HIV, mesmo que ele esteja completamente adormecido, e matar essas células”.

O HIV infecta os seres humanos inserindo-se no ADN das suas células imunitárias e utilizando a maquinaria celular para se replicar e partir ao ataque de outras células. Actualmente, os mais potentes “cocktails” de medicamentos contra o HIV apenas permitem reduzir a sua taxa de replicação, fazendo com que a carga viral no sangue da pessoa infectada desça para níveis praticamente indetectáveis durante longos períodos. Mas isso não acaba com a doença. As células infectadas pelo HIV continuam vivas e, no seu interior, o vírus continua quer a replicar-se lentamente, quer inactivo – em autênticos “santuários” no organismo humano de onde é quase impossível extirpá-lo. Esse é, aliás, um dos grandes problemas com que se defrontam hoje os especialistas.

O derradeiro objectivo dos cientistas portugueses é precisamente acabar com todas as células infectadas, incluindo as dos “santuários” (que, apesar de representarem um por cento das células infectadas, são as que fazem com que o HIV possa regressar em força). E tudo isto sem matar as células imunitárias que não estão infectadas pelo HIV.

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