DN Teatro

Sobreviver à dor, agora e sempre

por MARIA JOÃO CAETANO

Sobreviver à dor, agora e sempre

A actriz Eunice Muñoz interpreta o comovente monólogo 'O Ano do Pensamento Mágico', de Joan Didion. O espectáculo encenado por Diogo Infante estreia-se amanhã no Teatro Nacional D. Maria II, onde há também uma exposição dedicada a Eunice, e fica em cena até 20 de Dezembro

"A gente senta-se para jantar e a vida, tal como a conhecemos, acaba. Num instante muda tudo." Sentada no centro do palco do Teatro Nacional D. Maria II, no meio da escuridão, Eunice Muñoz dirige--se à plateia para contar a sua história. Começa com um aviso: isto também vai acontecer--vos, podem não saber quando nem como, mas vai acontecer-nos, acontece a todos sentirem a perda de alguém que amam.

Esta mulher - que é, na verdade, a autora do texto, Joan Didion - perdeu o marido, repentinamente, e perdeu a filha após dois anos de luta de hospital para hospital. Perdeu, sofreu e sobreviveu. "Pensavam que eu estava louca. Estive louca durante uns tempos mas agora já não estou."

Sobreviveu, primeiro, através de um pensamento mágico: apesar de saber que o marido, o também o escritor John Gregory Dunne, tinha morrido, alimentava uma secreta esperança de que ele voltasse. "Se eu não deitar fora os seus sapatos, talvez ele volte." Se autorizasse a autópsia. Se continuasse com a sua vida. Se. Este foi O Ano do Pensamento Mágico.

E sobreviveu, depois, através do discurso. Escrevendo e contando aos outros como sentiu estes acontecimentos e como foi na geologia que encontrou o significado das palavras do Testamento: "Como foi no início, como é agora e será sempre. Mundo sem fim." Haverá algo mais reconfortante do que saber que esta é a lei do mundo? Vivemos e morremos enquanto outros continuarão a viver. Agora e para sempre.

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