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Quando a sexualidade acaba em desespero

"Consultórios de Deus", de Claire Simon, estreia hoje, quinta-feira
joão antunes

Estreia hoje, quinta-feira, "Consultórios de Deus", da realizadora Claire Simon, que pediu ajuda a uma série de estrelas do cinema francês para um filme bem real sobre os centros de planeamento familiar. Com Nathalie Baye, Marie Laforet, Béatrice Dalle e Nicole Garcia. Veja o trailer.

Não há nada de "glamour" neste filme. Pelo contrário, estas actrizes despem por uma vez as vestes de estrelas para se apresentarem aqui como mulheres, frente a jovens que abordam as questões da sexualidade. Um filme-documento de grande humanismo, não tanto sobre os centros de aconselhamento sexual em França, mas mais sobre a problemática intemporal da descoberta da sexualidade, num Mundo ainda feito de máscaras e tabus.

A realizadora, que o JN encontrou, recentemente, em Paris, França, revela o porquê da presença de Deus no título. "Bem sei que este título me obriga a explicações permanentes", reconhece. "Deus é uma ideia que todos os humanos conhecem. É a criação, a partir do nada". E continua: "Ao princípio, fiquei um pouco chocada com o lado escondido dos centros de planeamento familiar. Mas também é a primeira vez na história da humanidade que as mulheres podem escolher. Podem dizer sim ou não. Escolher assim é uma grande beleza. E há um lado divino nessa escolha."

O primeiro filme de Claire Simon, "Sinon, oui", já focava o tema da sexualidade. "É uma história do feminino, do poder feminino. Não é que as mulheres sejam boas por poderem ter filhos. Mas essa história que contei impressionou-me. Toda a gente a devia saber. E ela era portuguesa", recorda.

Aliás, neste filme, também há a história de uma jovem portuguesa. "É uma história verdadeira. Contei aquilo que vi", diz. "Era uma miúda que já estava grávida de algum tempo e que queria ir resolver o problema a Espanha. Os pais eram da classe média e sentiram que tudo o que tinham feito na vida tinha sido para nada."

O projecto de "Consultórios de Deus" já tem alguns anos, mas só agora chegou a bom porto. "Tive algumas dificuldades em encontrar a maneira de fazer o filme", assume a realizadora. "Queria sair do gueto do documentário. Não queria que o filme chegasse apenas às pessoas que já estão convencidas. Acho que ganhei essa batalha. Queria que as pessoas fossem ao cinema e se emocionassem."

Mas recusa que seja uma ficção como qualquer outra: "Para nenhuma mulher é apenas ficção. Este é um tema que diz muito a qualquer mulher."

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