JN Sociedade
(Vejamos nesta notícia o que ela tem de provocador.Isso pode ser positivo para uma mudança de atitude)

"Preferia que me batesse, pelo menos, tocava-me"

JOANA CARNEIRO

Trinta e oito anos. Professora universitária, um casamento de 11 anos com um médico, um filho de nove. Um cancro na mama aos 32 e seis anos de violência psicológica.

A promessa de amor e felicidade eterna acabou quando chegou a casa depois de ter tirado o peito esquerdo, "naquela noite disse-me para não me despir", conta Ana Maria (nome fictício). Antes, "fazíamos amor todas as noites". Desde então, "nunca mais me tocou".

"Tinha um corpo invejável", confessa sem falsos pudores. O marido orgulhava-se da mulher que tinha ao lado, "gostava que me vestisse bem, arrojadamente". No dia em que tirou o peito, Ana perdeu a "feminilidade", disse-lhe o marido. Seria de esperar que ele, médico, fosse superior às marcas no corpo. Mas "tudo mudou. Nunca mais me quis", conta Ana.

A violência doméstica tem várias faces. "Preferia que me batesse, pelo menos, tocava-me", desabafa. Mas não. A violência a que Ana é sujeita, dia após dia, é a humilhação. "Sempre que tem amantes, diz-me. Diz que são mulheres completas".

Ana Maria continua a vestir--se bem, mas diz não se sentir mais "mulher". Confessa ter a auto-estima "inexistente. O espelho aterroriza-me". Nunca contou a ninguém o desgaste, a violência, que é o seu casamento. Fora de casa são o casal perfeito, "ninguém acreditaria em mim".

Sabe que não tem de se sujeitar à violência, "posso muito bem sustentar-me sozinha". Por que não o faz? Tem vergonha, "já basta não ser mulher. Abandonada seria ainda pior". E ele sabe disso.

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