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"Não tenho de me envergonhar de ser vítima"

JOANA CARNEIRO

Casou com 20 anos. Queria ser feliz. Nunca o foi. A violência começou ainda no namoro, "Foi só um estalo". Mas esse "só" foi a primeira gota de uma tempestade.

O olhar de "Maria" contrasta com a cor viva da camisola. Auxiliar de acção educativa, não tem "grandes estudos". Já não tem vergonha da sua história, apenas de a ter vivido. "Não tenho de me envergonhar de ser vítima", tenta convencer-se.

Casada com um camionista, diz nunca ter sabido o que era um carinho. "Só sexo. Era o que ele queria". O sexo foi a razão de todas as tormentas. Sempre que recusava relações, o inferno (re)começava, "Queria sexo e tinha de tê-lo".

Tiveram dois filhos. Para o marido, eram só duas bocas para alimentar: "nunca lhes faltou com nada". Faltou carinho. Sobrava medo. "Bastava ele falar para eu estremecer". Agora, já não treme.

Nunca deixou a família perceber a tempestade que pairava sobre ela. Por vergonha. Sem sucesso. "Os meus filhos têm memórias do pai a bater-me desde novinhos". É a maior tristeza de "Maria", ter legado à infância dos filhos o sofrimento da mãe: "Não perdoam o pai". Mas optou sofrer para ter dinheiro para os criar. Dinheiro sempre foi o ponto de controlo do marido.

Para "Maria", o sol nasceu depois da separação. Sente-se "uma mulher livre e leve". Quer uma vida calma, gostava de se apaixonar, "de saber o que é ter carinho".

Ao olhar para trás, a alegria pelos filhos colide na tristeza da voz: "Vivi 26 anos com um louco".

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