"O Norte será aquilo que quiser ser"

IVETE CARNEIRO, JOSÉ CARMO

Presidente da única empresa portuguesa com medicamento patenteado tem palavra de eleição: responsabilidade.

Quer explicar racionalmente a parapsicologia, nunca foi a Vilar de Perdizes, não tem fé. A não ser na responsabilidade. "Gosto muito da palavra responsabilidade". Aquela com que cada um deve "assumir a sua postura perante a vida". A mesma que gostaria de ver nas regiões regionalizadas, cansado que está de ver as culpas atiradas à capital sem nada ser feito em contrário. Luís Portela, médico e empresário, dirige o único laboratório farmacêutico português com um medicamento desenvolvido e patenteado. Com a perspectiva de outros cinco, diz candidamente que nunca se sentiu um "homem de negócios".

Almoçámos com ele e tentámos perceber como é que a Bial, que dirige há 30 anos, consegue singrar na crise. A resposta do rapaz que queria ser monge tibetano ou frade - mas nunca padre - regressa sempre à tal palavra de que gosta. Responsabilidade. Trata-se de definir "onde estamos e para onde queremos ir, em vez de procurar responsabilizar os outros". E de ter "uma visão a longo prazo". Só assim, olhando a dez, 15, 30 anos, se consegue o que a Bial conseguiu: ao fim de 14 anos e 300 milhões de euros de aposta na investigação, tem o único medicamento português à venda na Alemanha, na Áustria, no Reino Unido e na Dinamarca. Um antiepilétptico que só não está nas prateleiras de Portugal porque a burocracia ainda não resolveu a questão da comparticipação.

É a mesma visão que fez a empresa isolar, em 16 anos, cerca de 11 mil novas moléculas. E guardar seis delas para futuros medicamentos, um sucesso tendo em conta que um fármaco só nasce após o estudo de sete mil moléculas. Ou seja, mais cinco medicamentos na mira? É uma incógnita. Dois estão a espreitar no horizonte 2013-2015, um anti-parkinsoniano e um anti-hipertensor.

E isso chega para contornar a crise, pergunta-se, entre dois filetes de polvo com arroz do mesmo e uma garfada de grelos salteados. "Acho que há muita gente em Portugal sempre a dar receitas para tudo. Faz-me alguma confusão. É uma forma de ser e estar que não é a minha". De novo, a "responsabilidade". Luís Portela não tem receitas, mas tem ingredientes. "Fará talvez mais falta a assunção de responsabilidade e a definição de objectivos a médio e longo prazo. E uma organização que vá para o terreno e faça as coisas acontecerem. Liderança, basicamente".

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