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Condomínio da Terra: ideias para organizar a vizinhança global


por Gonçalo Silva

Gaia vai debater uma proposta inédita: ordenar o planeta como se fôssemos condóminos, com direitos e deveres

O espírito de James Lovelock, o químico inglês que desenvolveu a teoria de Gaia, vai pairar sobre Portugal no próximo fim-de-semana. A 4 e 5 de Julho, a cidade de Gaia acolhe o fórum do Condomínio da Terra, uma iniciativa que visa organizar a coexistência no planeta.

A polémica tese de Gaia, rebaptizada na década de 1980 como ciência do sistema da Terra, defende que a biosfera é um sistema que se auto-regula para manter a vida. Na mitologia grega, Gaia (ou Geia) era a personificação da Terra como deusa, a mãe de todas as coisas, que nasceu depois do caos. É a deusa Gaia que, ao separar a Terra dos céus, vem ordenar o cosmos.

A ideia do condomínio da Terra parte desta hipótese: tal como acontece num prédio, o planeta tem partes comuns que são imprescindíveis à vida humana - atmosfera, hidrosfera e biodiversidade.

Se pensarmos o planeta como um imenso condomínio, estaremos perante o principal pilar do projecto. O condomínio da Terra assenta na perspectiva de que todos somos vizinhos e todos devemos ser responsabilizados pela manutenção urgente do planeta.

"Se não nos conseguirmos organizar, a vida poderá continuar, mas sem a espécie humana. Para o final do século, com o desgaste que causamos actualmente ao planeta, corremos o sério risco de extinção", alerta Paulo Magalhães, principal promotor do Condomínio da Terra e fundador da organização ambientalista Quercus.

"Enquanto os recursos ambientais de uma floresta valerem menos que um telemóvel não há sustentabilidade possível. Precisamos de separar o que pode depender da soberania de cada Estado, o seu território, do que não é separável e requer gestão comum, como os céus, a água, as florestas", continua Magalhães, um dos oradores do evento. "Faz todo o sentido o actual exemplo da Noruega, que paga ao Brasil para que o país faça a manutenção das suas florestas, sem exigir mais nada em troca", acrescenta, exemplificando: "As árvores deviam valer mais vivas do que a sua madeira. São um bem comum de que todos necessitamos."

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