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Copenhaga

Habitantes da Terra lutam pelo planeta

por JOÃO CÉU E SILVA

Habitantes da Terra lutam pelo planeta

Durante duas semanas, Copenhaga foi o lugar onde se pretendia salvar o planeta. 193 países fizeram-se representar com delegações e 119 governantes estiveram no Centro Bella, mas os cidadãos anónimos fizeram a grande diferença na COP15.

Vieram de todo o planeta para pressionar o ambicioso acordo global que deveria ter acontecido na Conferência das Nações Unidas para as Alterações Climáticas que, durante duas semanas, juntou em Copenhaga 42 mil pessoas.

O acordo assinado foi pálido quando compa-rado com o arco-íris dos desejos desses milhares de pessoas mas, com certe-za, nenhuma delas esquecerá esses dias passados na capital dinamarquesa.

Uma coisa ficou certa, é que as questões do ambiente não interessam apenas aos ecologistas de carreira, pois a sociedade civil também se empenha em salvar o planeta do aquecimento global, que no ano 2050 terá subido dois graus a sua temperatura. Os mais novos terão nesse ano a idade que os mais velhos têm agora, mas ambas as gerações estão interessadas no estado de saúde da Terra.

O que os une é a certeza científica de serem a última geração que pode agir a tempo de parar as mudanças climáticas que farão subir os oceanos devido ao degelo dos pólos, submergirem os países-ilhas como Tuvalu, Fiji ou Maurícias e a dramática alteração das regras da natureza que regulam os ventos, a chuva, as temperaturas e as estações como estamos acostumados a senti-las.

Por todas estas razões, mulheres e homens de todas as idades tentaram o Acordo de Copenhaga e expressaram as suas vontades através de cartazes, palavras de ordem e vestindo-se a rigor para a ocasião.

Durante duas semanas, cada um trouxe a sua história até à cidade e contou-a a quem quis ouvir; usou a sua experiência em zonas pobres do globo para explicar como é que o acordo as deveria proteger; construíram campos de refugiados para mostrar como vivem os milhões de deslocados; visitaram exposições e actuaram em performances públicas.

Acções individuais e colectivas que alertaram para o estado desesperado do planeta.

O mais curioso é que, vindos de lugares, hábitos e línguas tão diferentes, não lhes foi difícil entenderem-se. Desde a jovem Lise, que decidiu estudar Antropologia após ter estado seis meses a trabalhar com as populações deslocadas da Zâmbia, ao fotógrafo da National Geographic Mattias Klum, que andou pelo Bornéu a registar as últimas imagens de uma floresta que está a desaparecer para dar lugar à cultura intensiva de palmeiras e ao negócio mundial do óleo de palma. Desde o Presidente Evo Morales, que falou das preocupações do povo boliviano para com a Mãe-Terra, até aos defensores de uma alimentação vegetariana, que, consideram, eliminaria muitos dos efeitos da industrialização.

O que queriam mostrar uns aos outros e ao mundo era, principalmente, que os gráficos que confirmam os efeitos das emissões de gases com efeito de estufa verificadas na última década são iguais aos de todas as décadas pós-Revolução Industrial, ou seja, desde 1850 até meados dos anos 90, e que as alterações climáticas são diametralmente opostas às acções dos governos, isto é, com as primeiras aconteceu tudo o que era possível e com os segundos o que era impossível: nada fizeram.

Apesar de o Acordo de Copenhaga ter sido uma mão-cheia de quase nada, há uma certeza para o ano 2010 e seguintes, de que nada será como antes, porque o planeta abriu os olhos para a situação trágica que está a viver.

Os políticos foram obrigados a colocar em agenda as altera- ções climáticas e serão, a par- tir de agora, confrontados com um leque de metas a adoptar para as interromper no que res- peita à redução de emissão de carbono, à promoção do uso de energias renováveis e à altera-ção do modo em como a civilização contemporânea convive com a Terra.

Será ainda preciso ajudar os países pobres com o financiamento da sua adaptação a uma economia verde, porque estes não são responsáveis pelo estado do planeta, apesar de serem os primeiros afectados com o que está a acontecer ao mundo.

Entre os números polémicos deste consumo desenfreado de petróleo e electricidade destaca--se o dos Estados Unidos: são 5% da humanidade mas consomem 25% da energia produzida.

Também o da China, o país cuja economia emergente mais polui a atmosfera: número 1 em emissões. Foi contra situações como estas, dois casos apenas, que milhares foram lutar a Copenhaga.

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