Uma vida a reerguer a aldeia

A história de... Arménio Santos, canalizador

LICÍNIA GIRÃO

Dedicou parte da vida a reerguer e a devolver a vida à aldeia onde nasceu, no concelho de Arganil. O seu trabalho é a prova de que com vontade e determinação é possível cumprir um sonho.

Nasceu numa aldeia condenada à desertificação que ajudou a erguer à força do trabalho de braços, destreza e ousadia nas acções. Arménio da Silva Santos, um canalizador de 58 anos, é tido como um "santo" na aldeia de onde é natural, Casal de S. João, a três quilómetros de Coja e a 12 da sede do concelho, Arganil.

Cansado da miséria que via à volta e de ver as pessoas partir, deitou mãos à obra e tem vindo a ajudar a terra a reerguer-se e a tornar-se atractiva. Há até quem já por lá construa casas e invista na criação do próprio emprego.

Quando nasceu, a pequena aldeia já enfrentava problemas de desertificação. Sem electricidade nem água canalizada, viver da agricultura e da floresta não dava para sustentar a família. Os mais jovens começaram a partir, mas Arménio Santos foi ficando.

Com uma coragem e determinação reconhecidas pelos habitantes da terra, recusou sempre entrar na política, com apenas uma passagem pela Assembleia Municipal. Há alguns anos começou por reerguer a Comissão de Melhoramentos, da qual é hoje o presidente. "Tudo o que queria na altura era fazer alguma coisa por aqueles que não abandonaram a terra por falta de oportunidades, mas que tinham cada vez mais uma vida miserável". Por lá não havia crianças; hoje, com menos de 10 anos, são mais de 20 as que saltam e brincam pelas ruas.

Nos tempos livres começou a trabalhar gratuitamente nas obras de requalificação da aldeia, enquanto engendrava ideias para angariar fundos e promover social e culturalmente pessoas e tradições locais. Agora a terra tem um conjunto de infra-estruturas, entre as quais uma casa-museu, a sede da associação com um bar, um parque de lazer e novos e amplos arruamentos, já com electricidade, água canalizada e saneamento que muito devem ao dinamismo e ousadia do canalizador que um dia também sonhou em ir viver para o Norte do país.

Já há estrangeiros a construírem casas na aldeia. A única mágoa que tem é a de ainda não ter visto resolvida a situação burocrática que impede o loteamento de um terreno, oferecido por um habitante, António Matoso, para que sejam vendidos lotes a custos simbólicos a quem desejar construir casas a custos reduzidos. Com a crise que o país e o Mundo atravessam, Arménio dos Santos, receia que os jovens voltem a desistir.

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